VIA ASCOM SECRETÁRIO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE, JOÃO CARLOS OLIVEIRA

Confira o artigo “Meio Ambiente, Pandemia e a nossa Bahia” do integrante do Partido Socialista Brasileiro (PSB) da Bahia e secretário estadual de Meio Ambiente, João Carlos Oliveira, publicado na última sexta-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente:

O momento atual por que passa a humanidade tem imposto de forma indubitável a necessidade de reflexão acerca de atitudes, conceitos, previsões, perspectivas, questões éticas e morais sobre o futuro da civilização no Planeta Terra e a quebra de paradigmas que poderá acontecer no contexto pós-pandemia. Neste cenário desafiador, nossa capacidade de prever e projetar ações de gestão pública e privada, se torna extremamente complexa, incerta e ao mesmo tempo determinantes para a vida da nossa população.

A relação homem versus natureza num momento assim ganha diversas conotações importantes, seja na análise das consequências sobre os fatores que levam ao surgimento de Pandemias, a partir do desequilíbrio ambiental e do contato do ser humano com novos organismos (tanto a AIDS como a COVID-19 são consequências deste), seja o impacto positivo momentâneo da desaceleração da emissão de combustíveis fósseis e outros efeitos do isolamento social, com melhoria significativa da qualidade do ar e da água principalmente ou em uma maior produção de resíduos pelo aumento do consumo de alimentos industrializados. Seja nos impactos pós-pandemia pela mudança de hábito e postura da sociedade em relação ao meio ambiente e a vida.
O fato é que num cenário desconhecido, se torna necessário redefinir ações de curto, médio e longo prazo, revisar e mudar legislações, promover a reengenharia de instituições e processos e até mesmo visão, missão e competências institucionais, e em meio a isso, aumentar a capacidade de prever tendências e cenários futuros que auxiliem a tomada de decisão de forma rápida e assertiva.
A questão ambiental neste contexto não pode prescindir de uma análise a priori das tendências que já vinham sendo apresentadas em nível mundial pré-pandemia, de um ambientalismo pautado pelo ativismo crítico do modelo de desenvolvimento utilitarista, seus impactos e limites em relação a saúde planetária na perspectiva da teoria de Gaia, do renomado cientista James Lovelock, para um ambientalismo pautado na chamada transição ecológica, onde as questões ambientais relacionadas principalmente às mudanças climáticas e a descarbonização da economia, passam a ser transversalizadas às políticas públicas e estratégias empresariais na forma de valoração de bens e serviços de menor impacto negativo sobre os ativos ambientais e serviços ecossistêmicos.
Iniciou-se assim um novo paradigma nas políticas ambientais e empresariais em todo o mundo, onde produtos e serviços são mais ou menos tributados, ou valorizados no consciente coletivo pelo seu impacto positivo ou negativo sobre o meio ambiente e a sociedade. Ganhando corpo neste contexto o redirecionamento principalmente das políticas de comunicação, educação, cultura, ciência e tecnologia, que devem procurar responder cada vez mais a formas de produção e consumo de menor impacto que proporcionem via de regra uma melhor qualidade do ar, acesso à água potável, alimentos saudáveis e principalmente o acesso de forma segura ao ambiente natural (praias, rios, mares e florestas). E na resolução de passivos ambientais como a descontaminação, recuperação e restauração de ambientes que proporcionem a otimização de serviços ecossistêmicos e ambientais.
Não menos importante é também analisar as questões relacionadas ao comportamento humano, consumismo e mudanças das relações tempo-espaço, que poderão ser reposicionadas ainda mais, no sentido de ressignificar totalmente essas relações. Seja das mudanças nas formas de logística e segurança sanitária, prioridade de uso do tempo e do espaço e uma possível aumento do uso das redes sociais para questões essenciais como: trabalho remoto, saúde, educação a distância, o que vem acontecendo, porém de forma ainda desordenada, pois a humanidade foi pega de surpresa por um inimigo invisível.
Essas e outras análises são de extrema importância para que estratégias empresariais ou públicas para a recuperação da economia, geração de emprego e renda, não contribuam como em outras situações pós-pandemias para flexibilizações e/ou retrocessos nas estratégias de políticas ambientais e sim para o avanço das mesmas. Sendo importante nesse momento analisar que ações já em curso devem ser intensificadas e aprimoradas e que novas ações devem ser empreendidas no processo. Incluindo na análise de oportunidades, os ativos endógenos de cada território, estado, país ou empresa, que inclusive estão sendo reposicionados pelas fatores anteriormente citados.
Nesse ínterim no caso do Estado da Bahia, que vem se destacando no combate à pandemia de forma célere e assertiva, o que já representa uma vantagem comparativa na retomada da economia, pela imagem positiva em termos de segurança sanitária e empresarial. Gostaríamos de destacar num primeiro momento quatro ações que devem ser intensificadas e iniciadas, com base nas possíveis mudanças pós-pandemia e os ativos endógenos do Estado relacionados a competências e “know how” acumulados em diversas áreas, seja com base em seus recursos naturais e capital humano e social.
A Bahia lidera em nível de Brasil com destaque em nível mundial a mudança de sua matriz energética, sendo líder hoje em termos de geração de energia eólica e solar, que somada a energia hidroelétrica perfaz mais de 80% de sua matriz com energias limpas. A intensificação disso, gera uma economia instantânea (seja na diminuição de custos, seja na venda de energia) inclusive com geração descentralizada em prédios públicos, iluminação pública, entre outros, contribuindo para dar escala e diminuir os custos com aquisição pelo setor privado, e poderia ser utilizado para pessoas e comunidades de baixa renda como política social.
No setor de Turismo Sustentável, a Bahia conta com o maior litoral do Brasil e um Turismo de Sol e Praia consolidado com uma grande rede hoteleira e logística, localizadas em sua maioria no bioma mata atlântica com atrativos relacionados ao Turismo de natureza pouco explorados (observação de aves, rafting, arvorismo, ecoturismo em unidades de conservação, observação de baleias, etc), o Turismo de natureza já consolidado na Chapada e em outras zonas turísticas, que somadas a segurança sanitária do Estado pode ajudar na retomada da economia do Turismo em bases mais sustentáveis, menor densidade e com efeitos imediatos sobre a economia . Destaca-se como um grande ativo para a visitação pós-pandemia as Unidades de Conservação Estadual e Federal na forma de parques, reservas, refúgio de vida silvestre, reservas biológicas e monumentos naturais do Estado com destaque para florestas, rios e cachoeiras no Baixo Sul e Litoral Sul; parceis, corais e vida marinha no Extremo Sul e cânions, cachoeiras, rios e pântanos na Chapada.
No setor Florestal o estado que já conta com uma significativa área de florestas plantadas ligadas a processos industriais de papel e celulose, possui também um potencial de mais de 2 milhões de m³ de madeiras exóticas associadas ao agroecossistema cacau-cabruca, além de 400 mil m³ de árvores mortas e/ou caídas, que poderiam ser utilizadas em um programa de movelaria sustentável, promovendo a retomada da economia do cacau (aumento da luminosidade pela retirada de sombra) o aumento de espécies nativas no sistema (as exóticas impedem a regeneração das nativas ) com geração imediata de emprego e renda.
Quanto a Economia Azul temos o maior Litoral do Brasil com 1.100 km de extensão e um grande potencial de produção na pesca e aquicultura, incluindo mariscos e algas, além de sustentar inúmeros pescadores artesanais e marisqueiras. Este potencial poderá ser ampliado com aumento do uso de tecnologias da informação por estes pescadores, a exemplo do que já ocorre com o projeto pescando em redes 3G em Trancoso (que utiliza o GPS do celular para identificar pesqueiros), pode-se ampliar isto com equipamentos que identifiquem cardumes, entre outros. Destaca-se também a produção de pescados com as chamadas fazendas marinhas para criação de Tilápia e outros peixes como o Robalo, por meio de tanques-redes em regiões estuarinas, lembrando que além de termos o maior litoral temos a primeira e segunda Baía (Todos os Santos e Camamu) em volume de água do país.