“Sou da Bahia comigo não tem horário Não sou otário e nem ninguém pode zombar Sou cabra macho, sou baiano toda hora Meio dia, duas horas, quatro e meia, o que é que há Cabeça grande é sinal de inteligência. Eu agradeço a providência ter nascido lá.”

Esses versos do cantor e compositor popular baiano, conhecido como Gordurinha e que fez sucesso na década de sessenta, me veio à cabeça, logo após o encerramento das eleições e começou a chuva de impropérios, xingamentos e toda sorte de manifestações xenofóbicas, feitas contra a população nordestina, por parte de autoridades e ativistas políticos da extrema direita, pelo fato de por meio dos seus votos, o Nordeste, ter assegurado não só a vitória do Presidente Lula, como também a continuidade do processo democrático no país.Estou entre aqueles que agradecem a providência ter nascido lá. Que orgulho danado, tenho de ser baiano e nordestino, nesse momento crucial que o país está vivendo. Digo isso não por conta do bairrismo barato que a xenofobia sulista tenta nos impingir, mas pela dimensão histórica que essa vitória obtida por Lula tem para o Brasil e para o mundo.

O Nordeste que se viu nessas eleições, não é estranho para quem é de lá, nem muito menos para quem acompanha a saga de quem luta contra a miséria, a violência e a exclusão. Foi na verdade a ressignificação da Balaiada no Maranhão, Piauí e Ceará, da Revolta Pernambucana, em Pernambuco, do Quilombo dos Palmares em Alagoas, da Revolta do Quebra Quilos na Paraíba ou da Revolta dos Búzios na Bahia, eventos históricos que sempre tiveram como marca registrada a luta em defesa da igualdade, da liberdade e da democracia.Não esqueçamos de que é no Nordeste que se concentra a maior população negra brasileira (35,8 milhões) que durante séculos enriqueceu a elite da região por meio do trabalho escravo. Do mesmo modo, não esqueçamos de que é no Nordeste onde está o maior número de pobres do país – 22,8 milhões – quase 40% da população. Tudo isto fruto da exploração secular que a região sofre, da insensibilidade da sua elite agraria que por meio da violência e da espoliação mais selvagem (que perdura até os dias atuais), mantém parte significativa da sua população em praticamente estado de indigência.

Não nos esqueçamos também de que praticamente todos/as analistas políticos afirmavam ao longo do processo eleitoral que essa não seria uma eleição qualquer e que estava em jogo algo muito maior do que a troca de guarda no Palácio do Planalto. Era o futuro da própria Democracia brasileira. Era decidir se o Brasil seguiria alinhado com o processo civilizatório que a maior parte do mundo tem trilhado ou se retrocederíamos as práticas fascistas, onde o racismo, misoginia, a homofobia, a violência, o ódio e a intolerância de todas as ordens norteariam a vida dos/as brasileiros/as.

E o Nordeste se fez presente a esse chamado histórico: No segundo turno das eleições a região deu a Lula, 22.534.967, (vinte e dois milhões quinhentos e trinta e quatro mil, novecentos e sessenta e sete votos). Destes a Bahia contribuiu com 6.097.815 (seis milhões noventa e sete mil e oitocentos e quinze votos). Ou seja, mais de trinta por cento dos mais de 60 milhões de votos que Lula teve no Brasil. Não há como negar, o Nordeste foi decisivo para a derrota da barbárie que se avizinhava. E a Bahia fez bonito, deu a maior votação da história para Lula, cravando 72% nas urnas.

Portanto, não se acanhem, batam palmas e agradeçam ao Nordeste e particularmente a Bahia por garantir que a civilidade e a democracia continuem sendo uma grande esperança para o povo brasileiro. Mais que isto, não permitam que os boçais, racistas e fascistas falem em nome da população sulista, pois nós sabemos que a sua grande maioria é democrata e civilizada.Toca a zabumba que a terra é nossa.

Por: Zulu Araújo