seminário dia da mulherAtividade virtual faz parte de programação em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

“Nós somos mais de 70% da mão de obra da área de Saúde, portanto nós estamos no mundo inteiro à frente da luta pela vida”. Esse foi um trecho da fala da deputada federal Lídice da Mata em seminário virtual realizado na tarde deste sábado (6), por meio do aplicativo Zoom Meeting, que abordou o tema “Impactos da Pandemia na Saúde Mental das Mulheres” em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. A atividade virtual contou com a participação da deputada estadual Fabíola Mansur; do presidente do partido no município, vereador Silvio Humberto; e da secretária estadual de Mulheres do PSB, Luciana Cruz. A mediação foi conduzida por Cássia Magalhães, dirigente do partido e coordenadora da Fundação João Mangabeira (FJM) na Bahia.

Foram convidadas para abordar o tema, Priscila Coimbra, enfermeira, docente da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Maranhão, sanitarista especialista em Saúde Mental, pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e com experiência no campo da saúde coletiva; e Luciana Falcão Lessa, integrante do Coletivo Luiza Mahin, licenciada em História, especialista em Teoria e Metodologia da História, mestre em História Social, doutora em Estudos Étnicos e Africanos, pesquisadora do Coletivo Angela Davis e integrante da Rede de Mulheres Negras da Bahia.

Antecedendo à fala de Lídice da Mata, a cantora Gabby Santana recitou um poema de sua autoria intitulado “Fazedoras de Cultura, em tempos de Pandemia”, adaptado à música “Maria, Maria” do cantor e compositor Milton Nascimento. Estiveram presentes mulheres socialistas, militantes do partido e representantes da legenda em Salvador e no Estado.

A parlamentar, que também é presidente do PSB baiano, abordou o percentual que integra as mulheres enquanto população, eleitoras e chefes de família e afirmou: “Somos aquelas que estamos na base dos salários pequenos do Brasil”.

“O 8 de março, além de ser uma comemoração que nós temos por diversas conquistas que alcançamos ao longo da nossa luta em defesa dos direitos da mulher, traz também novos desafios. Desafios de estarmos em uma pandemia, que é um momento extremamente difícil para todo o mundo, em especial para o Brasil, que é um País desigual; um País onde as mulheres estão afastadas do poder de decisão e somos 52% da população, 52,5% de eleitoras e onde somos 48% das chefes de famílias. Toda esta representação, seja populacional ou concretamente na economia – na participação de mais de 40% de presença das chefias de família -, nós estamos na base social e salarial do Brasil. Somos aquelas que estamos na base da pobreza brasileira, na base dos salários pequenos do Brasil. Por tudo isso, comemorar o 8 de março é rememorar nossa luta histórica por direitos à jornada de trabalho digna e também reafirmar o nosso compromisso com os desafios do momento”, analisou Lídice da Mata, que, ao final do seu discurso, mencionou os nomes das mulheres presentes e parabenizou-as pelo Dia Internacional da Mulher.

O presidente municipal da legenda, que é atuante nas questões em defesa da mulher, apresentou dados publicados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), relacionando o mercado de trabalho e a pandemia. “Os dados mostram o quanto esse momento tem sido impactado na vida das mulheres. Comparando 2019 com 2020, tem um crescimento assustador do número da taxa de desocupação das mulheres. A Bahia vem liderando essa taxa chegando a 24%, um crescimento que já estava entre os primeiros em 2019 e isso tende a se agravar. Evidentemente, isso tem um reflexo direto nas condições de vida e de sobrevivência das mulheres”, advertiu Silvio Humberto.

A secretária estadual de Mulheres, Luciana Cruz, informou que a atividade teve a contribuição de diversas mulheres socialistas, entre elas Maura Cristina, secretária Nacional de Mulheres Negras (NSB), a quem agradeceu a parceria e empenho. “Essa atividade foi construída a várias mãos. Esse tema sai de uma reunião coletiva, onde todas nós contribuímos e pensamos juntas em fazer um tema que fosse a referência de tudo o que está acontecendo nessa pandemia. Quero agradecer a Priscila Coimbra e Luciana Falcão por estarem contribuindo com esse momento crucial, que nós precisamos entender o que se passa na mente das mulheres nessa pandemia”, agradeceu.

Especialistas

A pesquisadora do Coletivo Angela Davis e integrante da Rede de Mulheres Negras da Bahia, Luciana Falcão Lessa, abordou aspectos políticos, sociais e históricos e fez um recorte do aspecto racial na pandemia. “Nós sabemos que a pandemia não impacta da mesma forma em todas as mulheres. Como afirma Ângela Figueiredo, a pandemia revela muito mais que aspectos biomédicos, ela revela principalmente as mazelas sociais e políticas que acentuavam as desigualdades sociais. A pandemia tem impactado de forma muito mais intensa as mulheres negras porque essas mulheres estão mais expostas e exercem os serviços essenciais. O desemprego também é maior entre as pessoas negras, porque elas foram mais impactadas pela pandemia, como o setor informal, de serviços e o comércio”.

Lessa também abordou a questão sanitária de mortes envolvendo pessoas negras e evidenciou a informação de que a Bahia é o estado que lidera o ranking de assassinatos a negros. “70% das pessoas contaminadas são pessoas negras e 70% das que morreram também foram pessoas negras, de acordo com o relatório da SESAB. Nesse período, também aumentou o número de mortes na questão da intervenção militar. A Bahia é o estado que mais mata negros. 97% das pessoas que foram mortas por intervenção militar nesse período, foram pessoas negras; e 2% pessoas brancas”, comparou e reforçou a importância da luta pelo fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre o desmonte de “estruturas hierárquicas nas instituições baseadas na raça”.

A sanitarista especialista em Saúde Mental, Priscila Coimbra, fez uma análise do momento anterior à pandemia no processo de “aniquilamento das populações” e dentro período pandêmico destacou a transição de gênero na perspectiva do trabalho das mulheres em “diferentes marcadores sociais”.

“Quando a gente pensa nos impactos da pandemia para saúde mental das mulheres, a gente não pode ignorar o que a gente já tinha da perspectiva anterior da pandemia, para esse processo de aniquilamento das populações, que aqui convivem com muita violência, muito adoecimento e muita morte. Uma das nossas lideranças da Associação Papo de Mulher nos lembra sempre que, ser mulher no Brasil, na Bahia e em Salvador, é morrer todo dia, mas sobretudo tratar de não adoecer, porque o machismo, o sexismo e as transfobias nos encontram todos os dias, das mais variadas formas. A situação na perspectiva de classes, por exemplo, que se encontrava na pandemia, é o processo de transição de gênero que nos obrigou a trabalhar e o trabalho não é o mesmo das mulheres marcadas por esses diferentes marcadores sociais”, destacou.

Coimbra também alertou sobre a importância de medidas sanitárias “urgentes” e na perspectiva econômica com a luta pela liberação do auxílio emergencial. “A gente precisa cuidar de nós. E cuidar de nós é cuidar do mundo. É preciso interromper ou desacelerar o que essa massa nazifascista coloca sobre esse país. A gente precisa de medidas sanitárias urgentes. Vacinação num ritmo acelerado, vacinação para todos e é preciso pensar na perspectiva econômica. Isolamento social, lockdown sem auxílio emergencial é sentença de morte para muita gente e muitas famílias. É preciso apostar no caminho da exigência da luta política pelo auxílio emergencial e socorro aos micros e pequenos empresários”. Após concluir sua fala, a apoiadora do Papo de Mulher passou a palavra para Elisleide Bonfim, coordenadora da Associação e mulher com transtorno mental, que abordou um pouco da sua experiência de sobrevivência nessa sociedade “preconceituosa”.