Vivo na cidade de Salvador há mais de cinco décadas e sempre que se aproxima o período das chuvas aumentam as ocorrências de alagamentos, desabamentos e enchentes por toda a cidade. Isso acontece com mais constância na periferia, mas hoje já é possível ser notado que os bairros mais nobres também são acometidos por esses problemas urbanos, evidente que em uma proporção bem menor e com prejuízos bem aquém da realidade da periferia.

Nos bairros periféricos as encostas escorregam ceifando várias vidas que, em sua maioria, são cidadãos desprovidos do amparo do estado e dos governos estadual e municipal. Não existe ação preventiva por parte da prefeitura nem do governo do estado, sempre quando acontece é um grande corre-corre, a comunidade se mobiliza, as lideranças vão fazer parte do “Exercito de Salvação”, os meios de comunicação de massa como televisão, rádio e jornais passam a dedicar grande parte das suas programações a noticiar a situação, não há uma ação preventiva, um programa verdadeiro de mapeamento com objetivo de resolver.

Com o passar dos anos vai ficando rotineiro, todas as vezes que chegam as estações das chuvas os soteropolitanos, moradores dos morros e encostas da cidade, têm a total modificação das suas rotinas: trabalham durante o dia e dão vigília à noite para não serem vítimas desses fenômenos da natureza, que são previsíveis e que se bem planejados e executados previamente poderão salvar muitas das vidas ceifadas por descaso dos nossos governos, que mais pensam em arrecadação que na proteção de centenas de milhares de seres humanos que estão vivendo em condições de completo abandono.

Por característica geográfica, Salvador tem várias elevações. Quando o volume d’água é grande as avenidas e vales viram verdadeiros rios e lagoas impedido a mobilidade de pessoas e veículos e provocando grandes transtornos para todos, sem contar nos vários desabamentos de casas e encostas existentes. Calçada na economia criativa, a cidade para literalmente, pois em condições adversas todos os shows e atividades ligadas à arte e cultura tem que ser adiadas ou canceladas.

Se formos fazer levantamento, os prejuízos causados pelas chuvas em Salvador são muito maiores do que vemos a olho nu. Os órgãos responsáveis por essa gestão seja no âmbito federal, estadual e municipal podem e devem criar mecanismos técnicos e mobilizadores para atuar não só em casos corretivos, mas fundamentalmente em ação preventiva. É permitido criar comitê e conselhos tripartites, onde podem atuar governo, sociedade civil e órgãos técnicos como CREA, IAB e outros, em uma somatória de esforços para, se não solucionar em sua totalidade, mitigar tantas perdas materiais e humanas em Salvador.

 

Ari Sena – Ativista do movimento negro e secretário da Negritude Socialista do PSB-Bahia

30/04/15