O secretário-geral do PSB na Bahia, Domingos Leonelli, defendeu ontem a tese de que a esquerda brasileira precisa fazer uma autocrítica e se renovar para a eleição de 2022. O atual presidente, Jair Bolsonaro (PSL), já disse que será postulante no próximo pleito nacional. “O PSB está propondo que a esquerda atualize sua agenda econômica. Se não atualizar a agenda econômica, também não atualiza a agenda política e social”, avalia, em entrevista à Tribuna.

O baiano quer que a sigla socialista levante a bandeira da economia criativa como meta para o desenvolvimento do país. “A esquerda primeiro tem que se renovar e o Partido Socialista Brasileiro está fazendo isso, num processo de autorreforma criativa. Nós vamos fazer em novembro uma conferência para criar um novo programa e um novo manifesto do partido”, revelou. O evento acontecerá nos dias 21 e 22 de novembro o PSB. “E eu espero que essa autorreforma que o PSB vai fazer incorpore a economia criativa como eixo de desenvolvimento”.

Segundo Leonelli, a economia criativa já existe no Brasil e é a mais forte. “Cresce 6% ao ano, enquanto a indústria decresce. Agora, não há nenhum planejamento estratégico ou política pública para a economia criativa. Todas as nossas políticas são voltadas para a indústria tradicional, para a indústria automobilística, que recebe bilhões de renúncia fiscal – sendo que essa indústria já foi há muito tempo superada pela indústria do conhecimento, como a Apple, a Microsoft e outras. Um telefone celular tem apenas 20% do seu valor atribuído para a fabricação física. Mais de 80% do seu valor é de inteligência embarcada, são os aplicativos e programas. Um celular sem aplicativo hoje não vale praticamente nada”.

Questionado sobre os ataques que o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), fez ao Governo Federal durante sua passagem por Salvador, o secretário pondera: “Ciro trabalha um pouco com essa hipótese, na medida em que foi orientado por intelectuais em sua campanha. Mangabeira Unger valoriza muito a economia criativa. No entanto, Ciro, dentro da sua campanha eleitoral, ele ainda defende uma reindustrialização do Brasil. Essa reindustrialização só pode ser feita se atualizarmos a inovação. Se a indústria brasileira resolver renovar-se tecnologicamente. Se não houver essa atualização, vamos continuar atrás”.

O socialista também ressalta que é “impossível” prever uma união dos partidos de esquerda em 2022. “Quem disser que sabe disso, está mentindo, porque ninguém sabe. Espero que possamos fazer frente contra essa onda quase fascistizante que o país está vivendo. Espero que o centro brasileiro se recomponha. O PMDB e o PSDB foram os grandes derrotados em 2018 e não a esquerda, que teve 47% dos votos no segundo turno. Quem foi derrotado e quase dizimado foi o centro democrático brasileiro”, avalia. “Embora eu não faça parte em nem vá apoiar o centro, acho importante que ele se recomponha. E a esquerda precisa se atualizar para enfrentar o embate ideológico”, completa.

E critica a esquerda brasileira: “A esquerda não fez uma autocrítica necessária para os erros e exaltou os acertos. Se o PT e a esquerda não fazem essa autocrítica, não podemos acertar. Vamos continuar errando. […] Não interessa [se o PT vai liderar ou não]. O PT é o maior partido da centro-esquerda do Brasil e, numericamente, é o maior partido. Agora, isso não quer dizer que vai liderar. Quem souber interpretar e defender ideologicamente as coisas que o povo se interessa, vai ter o maior sucesso”.
O baiano quer que a sigla socialista levante a bandeira da economia criativa como meta para o desenvolvimento do país.