“Estou emocionada. A última vez que eu participei de um seminário com essas características foi na época em que Brizola candidatou-se ao governo do Rio de Janeiro. De lá para cá a única coisa que eu tinha visto em política foram encontros em que se junta o maior número possível de pessoas com o único objetivo de ganhar votos”.
O depoimento da assessora educacional Lurdinha Cardoso resumiu o sentimento dos participantes do I Seminário Pensar a Bahia Sustentável, realizado entre os dias 9 e 22 de fevereiro, no Hotel Portobello, em Salvador. “Para mim esse seminário foi um momento de formação. Nunca havia participado de um encontro tão rico, com tantos especialistas discutindo questões tão importantes”, destacou a presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores Domésticos, Creuza Maria Oliveira.

Ao todo foram sete painéis que reuniram expositores ligados aos principais centros de estudos acadêmicos do País, como o sociólogo Luiz Werneck Vianna, os economistas Eduardo Gianetti e Tânia Bacelar, o arquiteto Marcelo Ferraz e o engenheiro Adary , em um formato democrático que permitiu a ampla participação das plenárias.

Foram 24 horas de debates em painéis temáticos com três especialistas cada, que debateram temas como política, economia, desenvolvimento, logística, infraestrutura e meio ambiente. Uma longa jornada de trabalho, como definiu Domingos Leonelli, diretor do Instituto Pensar, entidade responsável pela realização do encontro em parceria com a Fundação João Mangabeira. “A participação efetiva da plenária, em um processo de verdadeira fusão com a mesa, foi muito enriquecedora para este início do processo de produção do programa de governo do PSB para o Estado da Bahia”, declarou Leonelli.

Gravados em vídeo, os debates serão editados, publicados e apresentados aos participantes dos próximos seminários temáticos, sobre educação, saúde, segurança, gestão e orçamento público, em data a ser definida. As conclusões formarão o os eixos centrais do programa de governo, documento digital que será submetido à apreciação da sociedade, que poderá contribuir com as suas sugestões.

“Algumas pessoas nos perguntaram porque encerrar e não abrir com meio ambiente um seminário que tinha como título a sustentabilidade. A mudança na ordem dos fatores não alterará o produto, até porque essa será uma questão central do nosso programa de governo. Mas entendo que a política tinha que ser o abre alas da nossa discussão porque ela não é nada mais que a expressão de tudo o que discutimos. Temos que recuperar o posicionamento essencial da política e do político, que é no comando da economia e do desenvolvimento”, destacou a presidente estadual do PSB, senadora Lídice da Mata.

Pré-candidata ao governo do Estado, Lídice participou de todos os sete painéis, coordenados por estudiosos e pesquisadores como o sociólogo Luiz Werneck Vianna, os economistas e Tânia Bacelar e Eduardo Gianetti, os arquitetos Marcelo Ferraz e Ângela Gordilho, os engenheiros Adary Oliveira e Paulo Villa, os ambientalistas Renato Cunha e Júlio Rocha.

A pré-candidata do PSB-Rede Sustentabilidade ao Senado, Eliana Calmon, não pôde estar presente em função de sua participação em um congresso sobre segurança pública em Nova York, mas mandou uma mensagem em vídeo saudando a realização do seminário.

Abertura

Diante de um auditório lotado, com mais de 300 pessoas, o sociólogo Luiz Werneck Vianna abriu os trabalhos com a palestra intitulada Que Política é Possível. “Estamos no fim de um longo ciclo da política brasileira. Estamos caminhando para modernização”, pregou Werneck, para quem a resposta ao clamor das ruas consiste não na redução, mas em submeter o Estado à  sociedade brasileira, invertendo a lógica que históricamente rege o País.

“Não estamos dizendo que o País não avançou, nós saímos da ditadura e hoje vivemos na democracia. Está na hora da modernização ceder lugar ao moderno. A política muitas vezes está condenada ao fracasso porque não encontra o apoio da sociedade”, ressaltou o professor. Werneck diz ter aceitado o convite para abrir o seminário “porque acredito que a candidatura de Lídice tem a possibilidade histórica de fazer uma nova política”. Já a senadora salientou que o maior desafio do governante é saber ouvir a população antes de agir. “Se queremos fazer diferente não há saída se não for pela radicalização da democracia. Esse é o grande desafio deste seminário e vocês estão desafiados conosco”, frisou.

 Economia

 O segundo dia de trabalhos foi dedicado à discussão dos temas econômicos. Os trabalhos foram abertos com a exposição de Eduardo Gianetti, que traçou um panorama da economia nacional em que alertou para a necessidade de o Brasil reverter a combinação de três situações que não costumam caminhar juntas em economia: um baixo crescimento crônico, a pressão inflacionária, e um forte déficit em conta corrente.

Armando Avena e Oswaldo Guerra centraram suas exposições nos problemas concernentes à economia baiana. Ambos falaram sobre a concentração de riquezas nas porções litorâneas e do oeste do estado em detrimento à escassez na porção central do estado, notadamente no chamado semiárido, que ocupa 69% do território baiano. “As potencialidades de crescimento industrial e agropecuário continuam concentradas nas franjas do Estado, alertou Avena.

No período da tarde, os economistas Tânia Bacelar e Edgard Porto debateram os “Horizontes do Desenvolvimento – A Bahia e o Nordeste”. Citando os programas de transferência de renda do Governo Federal, Bacelar destacou que é de fundamental importância tratar a questão social na ênfase que ela precisa: “Não perco um minuto discutindo porta de saída para o Bolsa Família: porta de saída para o Bolsa Família é a educação”.

O terceiro dia do seminário teve três painéis: as arquitetas Angela Gordilho e Angela Franco abordaram a “Reforma Urbana”, o arquiteto Marcelo Ferraz e o antropólogo Antônio Risério debateram o tema “As Cidades e o Processo de Integração da Bahia” e os engenheiros Paulo Villa e Adary Oliveira  discutiram “Logística e Infraestrutura”.

Para Marcelo Ferraz, quando se fala em construção das cidades é importante refletir até que ponto “os governos primam pelo respeito, conservação e ocupação do espaço público”, pensamento compartilhado pelo sociólogo Antônio Risério: “A política urbana foi entregue pelos governos aos empresários”, criticou.

Meio Ambiente

Renato Cunha e Júlio Rocha encerraram o seminário no sábado abordando o enfrentamento aos problemas ambientais da Bahia. “O papel do próximo governo do Estado é rever o papel da Embasa no saneamento da Bahia, que tem um modelo de tratamento de esgoto lastimável. Salvador não bebe uma gota de água armazenada na cidade e a dependência do Paraguaçu que era 60% passou a ser 70%”, criticou Rocha.

“O Bahia Azul dizia que ia resolver todo o problema ambiental de Salvador, mas isso não é verdade. Dados do Inema revelam que as praias continuam impróprias para banho. Foram 600 milhões de dólares investidos e não resolvemos o problema”, acrescentou Renato Cunha.

E encerrou com um exemplo de que a mobilização da sociedade organizada continua sendo o principal instrumento da democracia, ao comentar o processo de consultas coletivas que serão feitas pelo governo do Estado para a construção do zoneamento ecológico econômico (ZEE). “A norma legal diz que os ZEEs têm que ser feitos de forma participativa, mas na pressa o governo quis fazer apenas nove consultas em todo o Estado. Questionamos junto ao Ministério público e conseguimos fazer com que o governo realize consultas em todos os 27 territórios de identidade”, disse Cunha.


Ascom PSB