A internet tem coisas muito positivas e também preocupantes. A velocidade da informação tanto pode servir à verdade como a equívocos. O anteprojeto (estudo preliminar de arquitetura) da Arena Castro Alves é um exemplo disso. Enquanto apresentávamos o anteprojeto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que é a via natural de qualquer intervenção no Centro Histórico, circulou na internet uma ideia, que já havia sido descartada, e sobre ela moveu-se uma verdadeira campanha contra.

A primeira coisa a ser esclarecida é que o verdadeiro anteprojeto não interfere em absolutamente nada na Praça Castro Alves. A verdade é que é uma proposta de intervenção a partir da Ladeira da Montanha, na encosta que vai dar na Conceição, numa área inteiramente degradada – conforme fotos que podem ser vistas no site institucional da Setur (www.turismo.ba.gov.br) e no portal oficial de turismo da Bahia (www.bahia.com.br) -, na qual seria implantada a arena, com banheiros, áreas para oficinas de teatro, música e dança, além da própria arena que, longe de sobrecarregar a Praça Castro Alves, vai aliviá-la de alguns eventos que lá já são realizados.

O equipamento tem também uma função organizadora da estrutura urbana da área, pois implicará a recuperação das ladeiras da Preguiça e da Conceição, do Sodré, além da própria Ladeira da Montanha, que para ali convergem. Quase todas as cidades históricas do mundo possuem espaços abertos para a realização de espetáculos musicais, teatrais, de dança, o que não tem nada a ver com Carnaval. Óperas, concertos, apresentações de orquestras sinfônicas e manifestações que marcam a diversidade da cultura baiana também poderão se apresentar ali.

Para isso, realmente é necessário um espaço bem maior que o Espaço Cultural da Barroquinha, que merece ser preservado e bem cuidado. A arena vai compor um corredor cultural, que não trará absolutamente nenhuma interferência negativa ao funcionamento do Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha, administrado pelo cineasta Cláudio Marques.

A lógica do entretenimento não é a da concorrência excludente, ou seja, quem for à arena não deixará de ir ao cinema e aos teatros. Quanto maior for a oferta de espaços, um maior número de pessoas será atraída para os espaços disponíveis.

Quanto ao aspecto do trânsito e do estacionamento, em hipótese nenhuma o número de carros será maior do que os que atualmente já são atraídos pelos eventos realizados na Praça Castro Alves. Ao contrário, a requalificação dessa área estabelece novos acessos pela Rua do Sodré, Conceição e Ladeira da Preguiça, além da própria Montanha.

Assim é que muitas das questões levantadas por Cláudio Marques só poderão ser respondidas por uma gestão compartilhada da própria Praça Castro Alves entre a Prefeitura Municipal de Salvador e as instituições que ali atuam. A própria gestão da arena estará submetida a essa lógica, que, longe de ser esmagadora, será libertadora.

Em consideração ao Iphan, que ainda não se pronunciou oficialmente sobre o anteprojeto, abstivemo-nos de apresentá-lo à Câmara dos Vereadores, ao Instituto de Arquitetos do Brasil na Bahia (IAB) e às comunidades organizadas do Centro Histórico. Fizemos isso informalmente, junto à prefeitura, em reunião com o secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura, Guilherme Bellintani. E atendendo a convite de José Carlos Capinan, discutimos o assunto com algumas personalidades do mundo artístico e cultural.

A construção do projeto definitivo naturalmente contará com a contribuição de audiências públicas que serão realizadas no mais breve espaço de tempo possível, como, aliás, já foi feito com outros aspectos do projeto turístico para a área na Rua Rui Barbosa e Largo do Tesouro, onde será implantado um estacionamento.

*Este artigo é uma resposta à “Uma Lógica Esmagadora”, do cineasta Claudio Marques, publicado no jornal A TARDE de quarta-feira, 24

Fonte: Jornal A TARDE / Foto: Divulgação Setur