A insatisfação dos brasilienses com a política, demonstrada pelas manifestações populares que mobilizaram a capital federal no ano passado, não afastou os cidadãos dos partidos políticos. Pelo contrário: desde as últimas eleições, o número de filiados a siglas partidárias no Distrito Federal saltou de 143 mil para 163 mil, um crescimento de 14% em apenas três anos. A maioria das legendas teve um crescimento expressivo do total de militantes registrados oficialmente. Em alguns casos, o acréscimo chega a mais de 200%. Especialistas veem com bons olhos o engajamento político dos brasilienses e acreditam que os números podem ter reflexos positivos nas urnas.

O prazo para filiação partidária terminou em 5 de outubro do ano passado mas, como algumas categorias profissionais têm direito a um prazo maior para optar por um partido, o número de agremiados a legendas políticas crescerá ainda mais. Juízes, promotores e conselheiros de tribunais de contas, por exemplo, podem aguardar até o começo de abril para se filiar. Já militares dispõem de prazo ainda mais longo: eles terão até 5 de julho para assinar a ficha de filiação partidária da sigla que escolherem.

O PMDB é o partido mais numeroso do DF, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral, com 25.976 filiados. Mas, nos últimos anos, houve uma queda de 1,3% no contingente do partido. Já o PT, do governador Agnelo Queiroz, aparece somente em sexto lugar na lista do TSE, com 15.321 militantes. O presidente regional do partido, deputado federal Roberto Policarpo, alega que os números estão defasados. “Até o início de abril, vamos fazer uma atualização dos dados no TSE”, afirma.

Segundo Policarpo, o número real de filiados do PT ultrapassa 46 mil pessoas, o que colocaria a legenda como a maior do DF. “O número poderia ser ainda mais expressivo, porque há pessoas que se filiaram e não fizeram nosso curso de formação e, portanto, não entram nesse dado.”

O PSB foi o partido que mais cresceu proporcionalmente nos últimos três anos: o número de filiados triplicou desde o começo de 2011.

O senador Rodrigo Rollemberg (PSB) comemora os dados e atribui a expansão dos quadros da legenda aos debates realizados pelos socialistas. “Fizemos um investimento do ponto de vista quantitativo, mas, principalmente, qualitativo. O número de filiados cresceu por conta da decisão do partido de criar 12 núcleos temáticos e de realizar seminários para debater o futuro do Distrito Federal”, comenta o senador, que é pré-candidato do partido ao Palácio do Buriti. Para Rollemberg, a saída da legenda da base do governo Agnelo Queiroz também ajudou a mobilizar militantes. “Mostramos coerência ao deixar o governo e os cargos que ocupávamos”, acredita o parlamentar.

Qualidade

O professor e empresário José Wilson Granjeiro é um dos novos filiados do PSB. Ele assinou a ficha de cadastramento em outubro do ano passado. “Eu sempre era assediado por partidos políticos na época das eleições. Isso aconteceu em 2006 e 2010. Mas nunca quis entrar na política”, conta. “Desta vez, não consegui resistir aos convites do senador Rollemberg, com quem que tenho uma grande amizade. Optei pelo PSB pela tradição do partido. Em vez de priorizar medalhões da política, eles foram atrás de líderes comunitários, de pessoas com passado e com histórico de trabalho pela cidade. E isso me encantou”, justifica o empresário, que pretende disputar uma vaga de deputado federal.

O cientista político Emerson Masullo classifica como positivo o crescimento do engajamento político dos brasilienses. Para ele, isso é um reflexo das manifestações populares de 2013. “O crescimento do número de filiados fortalece os partidos, não só pelo aumento de possíveis candidaturas, mas pelo maior efetivo na organização das zonais. Dessa forma, as legendas têm à disposição mais opções e conseguem fazer uma nominata maior”, afirma. “Esse é um fenômeno que decorre das manifestações populares do ano passado, que deram às pessoas um desejo de protagonismo social. As pessoas querem fazer um contraponto aos escândalos políticos e essa é uma reação extremamente positiva”, comenta o especialista.

Masullo lembra, entretanto, que não é possível afirmar que o aumento do número de filiados a partidos políticos terá necessariamente reflexos positivos nas urnas. “Não podemos dizer que teremos um resultado qualitativo. Quantidade não é qualidade”, comenta.Novas

siglas

Desde as últimas eleições, seis partidos foram criados e, juntos, já somam 1.427 militantes só no Distrito Federal. O maior deles é o Partido da Pátria Livre (PPL), lançado em outubro de 2011, com 726 filiados. O PSD, presidido pelo ex-governador Rogério Rosso, tem 330 registrados, mas perdeu os quatro deputados distritais que havia conquistado logo depois de sua criação. Hoje, a legenda não tem nenhum representante com mandato no DF.

 Avanço de nanicos

Considerado um nanico, ainda sem nenhuma representação na Câmara Legislativa ou na bancada do Distrito Federal no Congresso Nacional, o PSol foi um dos que, proporcionalmente, mais cresceu. O aumento de filiados foi de 136%. Em janeiro de 2011, a legenda tinha 1.059 filiados. Já em dezembro do ano passado, esse número saltou para 2.503. Com a pré-candidatura de Antônio Carlos de Andrade, o Toninho do PSol, ao Palácio do Buriti, a mobilização dos simpatizantes da sigla cresceu.

A presidente regional do partido, Juliana Selbach, que assumiu o posto em novembro de 2013, atribui o percentual expressivo de crescimento à luta da população contra a corrupção. “Essa é uma das principais bandeiras do nosso partido. O aumento do número de filiados do PSol pode ser explicado pela defesa intransigente que fazemos dos direitos da população”, comenta Selbach. “O PSol é um partido militante. Quem se filia é porque acredita na nossa causa e porque quer construir uma ultrademocracia. Com certeza, isso terá reflexos positivos na eleição”, acrescenta a presidente regional do PSol.

Evangélicos

Embalado pela força do voto evangélico, o PRB também engordou nos últimos anos. A legenda tinha 784 filiados em janeiro de 2011 e, agora, conta com 1.912 militantes formalmente registrados. A presença da sigla na base aliada do governador Agnelo Queiroz, com a nomeação de representantes do PRB para o primeiro escalão, também ajudou a dar visibilidade à sigla.

O secretário executivo do Conselho de Governo do GDF, Roberto Wagner, presidente regional do PRB, comemora o crescimento e garante que o fortalecimento trará resultados importantes nas urnas. “Nosso filiados votarão nos nossos candidatos e vão fazer propaganda boca a boca dos nossos representantes. Farão também proselitismo das ideias do PRB, o que é muito positivo”, comenta o representante do partido.

 Voo solo

Toninho do PSol tem sido procurado pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSB) e pelo PDT para uma parceria com vistas às eleições de 2014, mas a nova cúpula do PSol, sob o comando de Juliana Selbach, rejeita alianças com partidos que considera de centro. Por isso, é provável que o partido dispute o Palácio do Buriti com cabeça de chapa.

 

Reportagem de Helena Mader, do Correio Braziliense