Por indicação da senadora Lídice da Mata (PSB-BA), o capoeirista Moa do Katendê (Romualdo Rosário da Costa) – brutalmente assassinado após uma discussão política durante o primeiro turno das eleições de 2018 – recebeu homenagem póstuma nesta segunda-feira (10/12), em sessão do Senado para a entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo.

A comenda foi criada a partir de sugestão da senadora Fátima Bezerra (PT-RN), e tem por objetivo premiar anualmente artistas e instituições que realizem trabalhos e ações voltadas para a valorização da cultura, folclore e saberes tradicionais do povo brasileiro. Foram agraciados o cordelista Antônio Francisco Teixeira, o músico Nelson da Rabeca, o produtor cultural Nilson Rodrigues, o ator Pedro Baião, o Museu da Gente Sergipana, e a Câmara Brasileira do Livro (CBL). Também in memoriam foram homenageados os folcloristas Deífilo Gurgel e João Carlos Paixão Cortes.

Moa do Katende – A senadora Fátima Bezerra destacou a iniciativa da senadora Lídice da Mata a Moa do Katendê: “Nascido em Salvador, em 29 de outubro de 1954, Romualdo, conhecido como nosso querido mestre Moa do Katendê, foi compositor, percussionista, artesão, educador e mestre de capoeira. Moa foi indicado pela senadora Lídice e é considerado um dos maiores mestres de capoeira de Angola da Bahia. Começou a praticar capoeira aos oito anos, no terreiro de sua tia, o Ilê Axé Omin Bai. Defendia um processo de reafricanização da juventude baiana e do carnaval, seguindo as propostas de Antonio Risério. Foi brutalmente assassinado a facadas após o primeiro turno das eleições gerais deste ano, assassinato esse que chocou o Brasil e revoltou não o Brasil, mas o mundo. Infelizmente, um ataque motivado por discussões políticas. Enfim, mais uma vítima desses tempos de intolerância política que temos presenciado. Um representante da família viria receber a homenagem, mas houve um imprevisto. Mas queremos, aqui, mais uma vez, nos associar à iniciativa da senadora Lídice que, merecidamente, faz essa homenagem em memória a Moa do Katendê, concedendo-lhe a Comenda de Incentivo à Cultura Câmara Cascudo”. Confira aqui a citação da indicação do capoeirista Moa do Katendê durante a sessao especial do Senado. A senadora Lídice fará a entrega da homenagem aos familiares em agenda específica a ser agendada na Bahia.

Cultura popular – Também foi homenageada a psicóloga Daliana Cascudo, neta do folclorista Luís da Câmara Cascudo e diretora do Instituto Ludovicus, que preserva e divulga o imenso legado fruto do trabalho de décadas do pesquisador potiguar. Câmara Cascudo publicou mais de 150 obras sobre a cultura popular de nosso país, entre elas Antologia do Folclore Brasileiro, Geografia dos Mitos Brasileiros, Vaqueiros e Cantadores, Lendas Brasileiras e História da Alimentação no Brasil. “Meu avô detectou que a cultura popular é a base de uma sabedoria ilimitada, porque vem de uma sedimentação de conhecimentos. É uma mistura sempre única de constatações das sociedades no tempo e no espaço, sempre com uma pitada do momento. Todas as outras culturas são acessórias dessa base”, explicou Daliana.

A senadora Fátima Bezerra destacou que a primeira edição da Comenda serve como reconhecimento da “obra monumental de Cascudo”: “Para mim é uma emoção única, e agradeço o presidente do Senado, Eunício Oliveira, por ter atuado na efetivação desse incentivo a quem batalha pela valorização cultural. Câmara Cascudo tornou-se imortal, porque os pesquisadores de hoje analisam seu legado como o mais vasto trabalho de documentação de micro-realidades de nossa população”, detalhou.

Ministério da Cultura – Durante a sessão, homenageados e senadores ressaltaram a relevância que possui a cultura para que uma nação seja forte, educada, soberana e justa. Nilson Rodrigues, ao receber a comenda, pediu a união da classe artística contra o fechamento do Ministério da Cultura anunciado pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro. “A pluralidade e diversidade da nossa cultura, com dezenas de milhares de produtores em todas as regiões, é algo que nos distingue e valoriza. Extinguir o ministério do setor é algo preocupante e grave. Não existe nação desenvolvida que não adote uma política cultural consistente. Espero que o Senado se junte à mobilização artística contra o fechamento da pasta, porque cultura civiliza. Quando se ataca a cultura, busca-se no fundo atacar o avanço civilizatório de uma sociedade. Além disso, somos um setor que já alcançou uma dimensão sócio-econômica que não pode ser desprezada”, disse.

Tradições – A cultura gaúcha foi homenageada pela entrega da Comenda a Carlos Paixão Côrtes, filho do criador do primeiro Centro de Tradições Gaúchas (CTG) em Porto Alegre em 1948, o folclorista João Carlos Paixão Côrtes. O tradicionalista faleceu em agosto, e os senadores Ana Amélia (PP-RS) e Lasier Martins (PSD-RS) lembraram que ele é sinônimo de gauchismo no estado, tendo inclusive servido de modelo para a estátua do gaúcho-símbolo que fica na entrada de Porto Alegre. “Era meu amigo, uma personalidade marcante. A estátua do laçador, como é mais conhecida, perpetua para a eternidade nossa cultura, nossas tradições e a relevância de Paixão Côrtes na divulgação de nossas raízes”, disse Lasier.

Cultura nordestina – A sessão também contou com apresentações do músico Nelson da Rabeca e do cordelista Antônio Francisco Teixeira. A homenagem ao Museu da Gente Sergipana foi entregue ao arquiteto Ezio Deda, diretor do museu. “Já recebemos mais de 600 mil visitantes desde a abertura, em 2011. Um acesso gratuito e democrático. Todos os dias, por exemplo, recebemos alunos de escolas públicas. Celebramos tudo que nosso estado tem de mais genuíno: as culturas popular, quilombola, indígena e dos europeus que vieram ao Sergipe; a culinária, os modos de falar, o repente e o cordel. Estamos arraigados na cultura nordestina e a sergipana. A Comenda Câmara Cascudo ficará exposta na entrada do museu”, disse o gestor.

A íntegra da sessão especial está disponível no Portal Senado Multimidia.