Confira o artigo do primeiro-secretário municipal do PSB e superintendente adjunto da Defesa Civil da Bahia, Vitor Gantois:

Lockdown para salvar vidas. Lockdown para salvar a economia!

285.136 mortes! Eis o saldo de um pouco mais de um ano sobre a pandemia no nosso país. Sobre debate se usa ou não usa máscaras. Sobre ter ou não ter auxilio emergencial. Tomar ou não tomar vacina. Fazer ou não fazer Lockdown. E nisso, nossos casos diários foram avançando. E após as festas de fim de ano, voltaram a crescer exponencialmente. Com recordes diários de novos infectados. Novas mortes batendo recordes dia após dia. E o que era um cenário de tragedia, com 700, 800, 1 mil mortes por dia, se tornou uma catástrofe: temos mais de 2 mil mortes em média nos últimos 14 dias com, 2.736 mortes da ultima terça-feira (16/03) para quarta-feira. É algo sem precedentes. Nos tornamos o epicentro no mundo dos casos. Responsáveis, acredite, por mais de 20% das mortes no mundo nesta quarta-feira.

Falou-se muito, na primeira onda, sobre o Lockdown, que seria uma forma de resposta ao desastre que resultaria no fechamento de todas as atividades não essenciais para a sobrevivência humana com o intuito de forçar o isolamento social, reduzindo assim nossa taxa de contaminação. Reduzir essa taxa é reduzir números de novos infectados, casos graves e mortes, tornando-se assim, também numa politica preventiva, já que evitaria novas contaminações.

Infelizmente, desde aquele momento, o presidente e seus seguidores negaram e descartaram o uso desta ferramenta, mas, pressionado pela sociedade assustada com osnúmeros de mortes na Europa e Estados Unidos, foi obrigado a ceder e “apoiar” economicamente as medidas adotadas pelos estados e municípios que realizaram restrições, sendo aprovadas varias medidas de incentivo a manutenção do emprego, auxilio emergencial e outras questões. Há de se lembrar que tais medidas foram aprovadas muito mais pela pressão da opinião pública e pelo esforço do congresso nacional do que, propriamente dita, vontade do palácio do planalto, que adotava o falso dilema: Vida versos economia.

Feita essa não tão pequena contextualização histórica, sobre o nosso atual panorama de pandemia, vou aonde quero chegar: Para salvar vidas, temos que imediatamente decretar um Lockdown nacional. Para salvar a economia, temos que imediatamente decretar o Lockdown nacional.

Mas ora caro autor, como pode tal ato ter resultados satisfatórios para as duas coisas? Fechar tudo é acabar com empregos. É destruir empregos. É abalar a economia como todo!?

É realmente pode ser, principalmente se pensarmos de modo simplista, desatenta com a realidade global e quisermos enfileirar do lado daqueles que usam o discurso de proteger empregos e salvar a economia para disfarçar o que realmente não querem: pagar auxilio emergencial e ajudar as empresas a manter-se abertas e assumir suas responsabilidades diante da pandemia.

Estados unidos, países Europa, como o Reino Unido e muitos outros países, aprovaram auxílios a população e empresas para incentivar o isolamento social. Foram pacotes de estímulos de vários bilhões de dólares nesses países, em grandes pactos nacionais pela vida, pelos empregos e pela economia. Todos eles, adotaram regras rígidas de isolamento social. Períodos longos de Lockdown e viram, suas taxas de mortalidade despencarem, o sistema de saúde ficar menos sobrecarregado e o impacto na economia ser muito menor do que se nada fosse feito e começam a experimentar um retorno gradual a normalidade.

Na grande maioria, as politicas adotadas foram de distribuição de auxilio para a maioria da população, onde pequenos empresários, comerciantes, trabalhadores autônomos e informais receberam a mesma quantia. Nos estados Unidos, 100 milhões de habitantes receberão nos próximos dias um cheque em suas casas de US$ 1.400 dólares, algo em torno de 8 mil reais. Assim, aqueles donos de pequenos negócios, lojas ou trabalhadores informais estarão cobertos não só por uma renda básica, assim como por pacote de estimulo a economia, sendo duplamente beneficiado.

Aqui, como sempre, queremos inventar a roda. Muito pior. Vimos o discurso de que é preciso salvar a economia e empregos em detrimento a políticas de isolamento social ganhar mais força, à medida que a pandemia avançava no tempo e causava natural fadiga nas pessoas.

Erra, portanto quem acha que fazer um Lockdownnacional, de algumas semanas, afetará a economia. Na verdade, se já tivéssemos feito em dois períodos da pandemia, um Lockdown de 3 semanas cada um, certamente não teríamos esse total de mortos, não estaríamos no epicentro da pandemia do mundo e, talvez, sem ser berçário de novas variantes, já estaríamos saindo do auge da pandemia e recuperando mais rapidamente a nossa economia. Mas se optarmos a continuar o debate nessa dicotomia irreal, onde o governo brasileiro continua usando esse expediente como cortina de fumaça para os seus verdadeiros propósitos de não pagar auxilio emergencial. Não abrir mão de arrecadação. Não comprar vacina com a rapidez necessária. Não utilizar verba para campanhas de conscientização. E tudo isso em nome de uma austeridade fiscal que não foi lembrada quando se liberou emendas para deputados na eleição para a presidência da câmara. Ou quando libera recursos para a compra de remédios cientificamente não comprovados. Ou quando se articula perdão de dívidas das igrejas. Se continuarmos assim, teremos governadores e prefeitos fazendo o possível e o impossível para, com as armas que tem, determinar algum nível de isolamento social nas cidades e estados e torcer com a adesão da população, que sem incentivo real de um auxilio rápido e capaz de suprir suas necessidades básicas, é obvio que sairá as ruas para lutarem pelo pão de cada dia e comerciantes lutando para manter as contas pagas e os negócios abertos. E assim vamos indo, com governo fingindo que paga algum auxilio emergencial e a população e o comercio fingindo que respeitam os decretos, numa encenação que só traz desespero aos gestores estaduais e municipais e, em maior proporção, as famílias das vítimas.

Amigos e amigas, esse discurso dicotômico não é pensando em emprego, salvar economia ou manter as contas publicas em ordem. Nossa dívida pública está em89% do PIB, que vem a ser tudo que produzimos de riqueza. É um numero realmente alto e que cresceu nos últimos anos, principalmente por conta da pandemia. Mas, é importante lembrar que, um exemplo não muito distante, os Estados Unidos produziram dois pacotes de estímulos a economia e auxilio as pessoas, sendo o ultimo maior que todo o PIB do Brasil e lá, a divida publica americana foi de 98% do PIB em 2020 e projeções dizem que deverá chegar a 101% do PIB em 2021. Reparem, mesmo com tais números se aprovou o maior pacote de estimulo. Lá, como na Europa, se entendeu que não há como dissociar uma luta com a outra.

Com 2700 mortes em média nos últimos dois dias, estamos, somados, perdendo um pequeno município brasileiro a cada dois dias para a pandemia e mesmo assim, ouvimos os presidentes do Senado e da Câmaradizerem que Lockdown é para casos extremos.

Ora, a verdade é que já passamos a muito dos casos extremos. Estávamos a 20 dias atras com absurdas medias diárias de 900 mortes, e em menos de 30 dias estamos em mais de 2 mil mortes por dia. Se isso não for uma situação extrema, o que será? 5 mil mortes ao dia?

E tudo isso resultado de uma falta de coordenação nacional de enfrentamento, com politicas reais de compra e distribuição e vacinas, com decretação de Lockdownpara achatar a curva de transmissão, reduzindo assim o numero de infectados e reduzindo a alta carga sobre o sistema de saúde e profissionais, que estafados, se desdobram para atender com alta capacidade o exorbitante numero de pacientes internados.

Somente um Lockdown nacional, com pacotes de estímulos a manutenção dos empregos e distribuição e renda para a grande massa da população, num grande pacto nacional pela vida e pelos empregos é que salvaremos vidas e empregos, porque, fora isso, continuaremos a bater recordes de mortes, numa catástrofe diária que nos levará, isso sim, ao desemprego em massa, fechamentos de negócios e a 500 mil mortes até agosto!