Confira o artigo do secretário geral do PSB de Feira de Santana, Leonardo Pedreira, “Por um Salto Adiante”, que sugere uma reflexão e crítica “profunda” sobre o papel da sociedade como agente da principal mudança e transformação política no País.

POR UM SALTO ADIANTE 

Na semana que se passou uma matéria sobre o presidente Lula, me chamou atenção e despertou para uma série de reflexões. Principalmente, pois, sua fala atinge como uma flecha os principais críticos dos anos do governo petista em nosso país.

A fala chave que deu o gatilho para uma verdadeira avalanche de pensamentos teve como origem a participação do presidente em entrevista concedida à Rádio CBN de Santa Catarina e que foi a seguinte:

Como vamos entrar em uma outra disputa política, não custa nada a gente avaliar o que a gente fez de certo, o que a gente fez de errado, onde a gente pisou na bola e onde a gente não pisou, para que de fato a gente faça as coisas mais corretas possíveis em 2022”.

 Esta fala, de pronto, me remeteu a outro grande líder de um movimento histórico muito importante, sobretudo, para os movimentos de esquerda em todo mundo, sobretudo àquela revolucionária. Obviamente, estou falando de Vladimir Ilich Lênin.

 O homem inteligente não é aquele que não comete falta alguma. Tais indivíduos não existem nem podem existir”.

Mas, antes de discutir este ponto, quero fazer um convite para uma retomada do pensamento da esquerda que compreende a luta de classes como ponto chave para compreensão do momento atual do Brasil.

Não há como negar que o Brasil pós golpe – e aqui direciono para o golpe que faz agora no dia 31 de agosto, 05 anos – mergulhou de cabeça em tempo sombrios, nos colocando de forma cada vez mais acentuada num lugar periférico da economia mundial. Com isso, não afirmo que o Estado brasileiro tenha enfraquecido após mais esta repetitiva marcha histórica. Pelo contrário, o golpe revelou e revela no atual momento o volume de força que o poder estatal detém quando o interesse é justamente defender, e até impulsionar, os interesses dos grandes capitais no Brasil. São exemplos disto, para além do próprio golpe, a escalada de privatizações e medidas políticas que trazem duras penas à sociedade. Este poder se revela cada vez mais forte e impulsiona esta disputa de classes em nossa nação. E é nesse ponto que, fazendo o uso das ideias da frase acima de Lênin, não podemos negar que, reconhecer isto, é um ato de inteligência, como é também reconhecer o inverso que, em muitos aspectos, figuras centrais do governo do nosso país, que aglutinam parte deste poder conservador e de interesse capital, nos revela cada vez mais como, definitivamente, comprometeram o caráter público do Estado brasileiro de atuar em função daqueles interesses que, de alguma forma, refletem as necessidades dos anseios da população nacional.

Se pensarmos bem, esse descontrole/desgoverno dos interesses da sociedade tem sido a razão de ocuparmos o lugar de país periférico na economia mundial, apesar de tantas riquezas.

 São fatos práticos do nosso cotidiano, que atestam o argumento acima, com o aumento assustador do desemprego, que soma 14,76 milhões, a escalada e acelerada precarização das relações de trabalho e, aqui, cito os duros ataques à direitos fundamentais dos trabalhadores. Prova disso é a MP 1045/21, encaminhada por Bolsonaro para massacrar ainda mais a classe trabalhadora nacional, a destruição sem precedentes do meio ambiente, com resultado do avanço do agronegócio sobre áreas virgens e do que sobrou ainda de nossas florestas. É preciso citar, também, a escalada da violência urbana e rural, em especial sobre a população negra e indígena para finalizar a corrupção que tomou conta das estruturas de governo em proporção amazônica em todas as suas dimensões.

Tudo isso, ao longo deste tempo, tem sido o combustível necessário para a descrença nas instituições e para o crescimento da crise da identidade nacional, que vem colocando em questão a nossa própria noção de sociedade nacional. E para isso, não afetou o exorbitante preço da gasolina. Percebam o que o movimento de um grupo, em busca de seus próprios interesses, pode causar à uma nação inteira.

É, justamente, neste ponto que retomo o pensamento do presidente Lula, citado no início do texto. Nossa missão, agora, não é mais a de interpretar o Brasil, pois muitos já o fizeram e fazem muito bem. O que precisamos, hoje, é transformá-lo. E isto começa apresentando à esta sociedade massacrada a ideia de que a luta de classes ocupa em nosso país um lugar vital de decisão, chegando ao resultado de uma luta de vida ou morte entre os interesses dos excluídos e os interesses de uma política genocida cada vez mais avassaladora. E é isso que Lula tem argumentado muito bem. No entanto, é preciso muito mais do que uma autocrítica, é preciso uma autorreforma.

Sem essa força do discurso que apresenta o projeto vivo de transformação da nação e, sobretudo, de inclusão dos interesses da pautas do movimento da esquerda nacional, aliados à um projeto de disputa de poder, de nada valerá.

É preciso superar o estado de fragmentação política e de alienação ideológica que contaminou a níveis pandêmicos nosso país. Para isso, é preciso expor uma crítica reflexiva da realidade das condições de vida da maioria dos excluídos e do país, para que fique claro quais tem sido os reais interesses e quem são aqueles que têm vampirizado a energia vital da nação. É preciso adquirir e projetar a clareza necessária das reais movimentações políticas do nosso país.

Para isso, como exemplo prático, é fundamental superar dentro desta perspectiva a secular luta pelos aumentos salariais e por melhores condições de trabalho. Precisamos refletir sobre a necessidade de rompermos com este horizonte que se limita a reivindicar anualmente melhorias de condição de vida. Não que a luta por eles não seja importante, pelo contrário. Do ponto de vista imediato, se permanecermos somente no campo da luta pelo imediato, continuaremos agindo somente sobre a febre, sobre os efeitos da política capital e precisamos atuar com o objetivo de atingir suas causas estruturais. Atingirmos os objetivos de conquista de vida digna para todos.

Para vencermos esta luta, que vai muito além do que em 2022, cabe a nós, de forma revolucionária, e digo aqui no pensamento e na inteligência política e no respeito a todos aqueles que confiam a nós o lugar de representação dos interesses da sociedade, a dura e necessária tarefa de submeter a sociedade brasileira a uma crítica profunda, mostrando as condições e indicando os caminhos que representarão o avanço para a consolidação deste projeto de nação.

Para encerrar, por hora, é importante dizer que é necessário transformarmos o nosso instinto de autodefesa e reativo à retomada da consciência do nosso lugar de classe nessa sociedade, nos revestindo dos meios necessários para propormos as mudanças vitais para nossa sociedade e vencermos de forma definitiva o obscurantismo que adoeceu nosso país.

Leonardo Pedreira

Secretário geral do PSB de Feira de Santana

leonardopedreira1@gmail.com