LEMBRAR PARA NÃO ESQUECER: OS DESAFIOS DE FAZER ACONTECER AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA QUEM MAIS PRECISA.

 Começo esta escrita desaguando em minhas correntezas, que são as memórias da minha trajetória política. Uso a imagem da memória e das correntezas como referência, pois considero que o percurso de construção de políticas para mulheres negras e demais grupos desde as nossas ancestrais traz à lembrança aimportância de nunca caminharmos para trás, mas sempre para frente, na certeza de que há caminhos férteis e possíveis de bem viver. Voltando às memórias, que desde o início desta narrativa anunciei, lembro-me de várias vozes, em diferentes lugares os quais estive como profissional, que tinham a mesma súplica: “não se esqueça de mim!Essas falas me conduzem ao questionamento da prática política, porque acredito, assim como Paulo Freire, que a práxis docente deve ser reflexiva, debatendo seu fazer e, portanto, a política não está distante disso.

É necessário refletir na prática política o que se tem construído e se isso condiz com os seus objetivos tomados como faróis para a nossa estrada política. Essa reflexão da prática política vem justamente da ação desse contato mais próximo com a população.  Essas vozes reivindicam um lugar para que suas demandas sejam escutadas, para que suas vozes estejam sempre em pauta e que seus problemas sejam resolvidos. Em suma, reivindicam a oportunidade de uma vida melhor. Nesse sentido, escutar atentamente e de forma reflexiva essas demandas, nos permitiria elaborar o que seria esse grito acuado de tantas vozes, grupos, reverberando outros caminhos. “Não se esqueça de mim aqui!”, é um clamor, um chamado indicando que há uma carência, uma ausência de nós, um distanciamento que separa a teoria da prática política. Essa frase que me chamou a atenção, e revisitando a memória percebi que havia ali naqueles ambientes uma solicitação, um chamado a ser observado e encaminhado. Pensar nas políticas públicas para a população desfavorecida seja hoje, talvez,um dos maiores e mais urgentes pontos de pautas a ser discutido, elaborado, executado e avaliado por nós, enquanto movimento social e político.

Por outro lado, essas falas denunciam uma forma ultrapassada de se fazer política no mundo, sobretudo no Brasil, na qual os mais desamparados politicamente são visitados apenas antes das eleições e onde vários projetos públicos de melhorias nas comunidades são anunciados por nós enquanto políticos, mas que tão logo passe o processo eleitoral, essas pessoas são jogadas novamente no limbo. Por essa realidade que anuncio aqui, é que,convido a todos, todas e todes nós a uma reflexão política. É imprescindível se ter uma atenção à essas pessoas, comunidades, grupos após as eleições, onde essas pautas sejam contínuas e, sobretudo, onde elas sejam executadas, ou ao menos encaminhadas e discutidas.

Precisamos pensar um fazer político verdadeiramente democrático, empático, sensível às dores da população que carece de melhorias em suas comunidades, em seus grupos – sejam eles culturais, sociais, esportivos, religiosos. Precisamos pensar em políticas públicas efetivas que atendam aos grupos mais vulneráveis, tais como: mulheres negras, juventude negra, indígenas, Lgbts negres e os que estão sobre custódia para avaliar o que leva a um número expressivo dessas pessoas estarem nesse lugar. Precisamospensar nas populações de rua, que cresce desenfreadamente, pensar na estatística que está posta ao extermínio da juventude negra, discutir sobre os abusos das autoridades de segurança e de como podemos amenizar as dores das famílias vítimas desse sistema. É preciso ter coragem e é imprescindível que nós, enquanto socialistas e diante de uma autorreforma que anuncia uma grande e importante virada política, atentemos para essas pautas.

Para concluir, como iniciei a narrativa abordando a ancestralidade, trago a memória das Yálorixás, mulheres negras dentro do espaço religioso que lutaram incansavelmente para que suas tradições não fossemesquecidas, e de como elas fizeram politica para proteger o seu povo da opressão e escravidão. Essa foi uma luta política liderada pelas mulheres negras! Essas referências nos fazem vislumbrar que no caminho dessa árdua trajetória, que é conseguir fazer políticas públicas para as comunidades que mais necessitam, não é impossível fazermos ainda melhor desde que estejamos juntas e informadas por essas referências ancestrais.  Ainda há beleza, e uma utopia necessária que nos faz não desistir, não sucumbir ao abismo, e é preciso se ter coragem, é preciso ter ousadia, é preciso fazer revolução, mas acima de tudo, é preciso acreditar na politica que foi indicada, constitucionalizada para proteção de quem mais precisa. Édifícil, mas não impossível de se conseguir e vencer. Desde que não nos deixemos levar pelas velhas formas de se fazer política e modelos desgastados que só lembram do povo em época de eleições. Que as políticas públicas sejam feitas para aqueles que mais precisam delas.

Venham, mulheres, filiar-se ao PSB!

Por Janda Mawusí

Assessoria de Comunicação do PSB Bahia
Laís Lopes
Jornalista – DRT: 4838/BA