Confira o artigo do ex-deputado federal Domingos Leonelli, intitulado “O Fator Lula”, que faz uma breve análise do discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista coletiva concedida nesta quarta-feira (10). A transmissão foi feita pela Rede TVT, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.

Na última segunda-feira (8), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou todas as condenações do ex-presidente, pela Justiça Federal do Paraná, no âmbito da Operação Lava Jato. Com a decisão, Lula recupera seus direitos políticos e se torna elegível.

O FATOR LULA

A reabilitação do ex-presidente Lula cria um novo quadro na política braslieira. Sua entrevista coletiva, transmitida pela TVT no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, no ABC Paulista, revela que o velho-novo Lula está em plena forma pessoal e política. Abandonou completamente a posição, justa,  mas inútil, de vitima das injustiças da Lava Jato e do juiz parcial Sergio Moro, para pronunciar o discurso que dele se esperava ao sair da cadeia.

Colocou-se à altura do Brasil e de sua própria figura. Como todo bom candidato a presidente, negou que estivesse preocupado com isso, quando, na verdade, “só pensa naquilo”. Lembrou-me do então governador Tancredo Neves, que sempre respondia que só pensava em Minas Gerais.

Reafirmou a naturalidade do PT em ter candidato à presidência e seu óbvio interesse em polarizar com Bolsonaro.

Não falou em impeachment do atual presidente.

Colocou a questão da Frente Ampla no seu devido lugar, a meu ver corretamente: essa frente está estabelecida na luta pela vacinação de todos os brasileiros, pelo auxilio emergencial e pelos empregos para os brasileiros. Faltou, naturalmente, colocar o impedimento do atual presidente que ele pretende vencer nas urnas de 2022.

Abriu-se para entendimentos com todas as forças politicas, especialmente com as forças de esquerda, no primeiro ou no segundo turno das eleições, reconhecendo a legitimidade de outras candidaturas presidenciais.

Mais uma vez, não achou necessário explicar o por que em 13 anos de governo o PT e seus aliados (inclusive o PSB) não promoveram reformas estruturais (trbutária, politica, educacional e agrária), preferindo ressaltar as realizações do seus governos em que o Brasil era feliz. Esqueceu que o governo de Dilma Rousseff deixou 11 milhoes desempregados. Tampouco considerou necessário explicar o por que manteve a absurda situação, uma das únicas no mundo, que dividendos do capital  financeiro não são tributados.

Mas nada disso parece ter importância para a política real.

Embora não tenha repetido que os banqueiros nunca ganharam tanto como em seus governos, Lula fez coro com o mega investidor internacional Mobius e disse que o tal do “mercado” não tinha por que temê-lo. Foi firme na defesa da Petrobrás e na posição contra a independencia do Banco Central.

Ofereceu-se para conversar a serio, e não em almoços ou jantares, com a Febraban, com as federações das indústrias e do comercio.

Colocou-se, enfim, como um candidato de centro-esquerda que sabe falar com o povo, que gosta da política e que sabe fazê-la.

Narrou com naturalidade fatos da politica internacional em que se colococava de igual para igual com Obama, Sarkozi e outros. Marcando assim a diferença para um patetico Bolsonaro.

O fator Lula altera jogo para a direita, em que  Bolsonaro, por exemplo, já está a favor vacina. Para o Centro, na medida em que fica claro que candidaturas como a de Huck, Doria,

Mandetta e outros passam a não entusiasmar os profissionais da política, para a esquerda e centro-esquerda, em que Ciro, Boulos, Flavio Dino e quem venha a ser o candidato do meu PSB, a repensarem suas estratégias.      

Acho que Lula vai saber aproveitar essa “lua de mel” propiciada pela desastrada Lava Jato, em que um dos chefes disse que a prisão de Lula havia sido um presente da CIA.

Pelo visto um presente de grego.

Domingos Leonelli é ex-deputado federal e integrante da Executiva Nacional do PSB.