861E3014-F844-4835-B003-06C6777CBF86Festas Populares e a Invisibilidade das Mulheres Negras na Economia Local. 

Salvador é uma cidade tradicionalmente marcada pelos festejos populares, sobretudo, pelas as lavagens sagradas seguidas de comemoração pelas ruas que acontecem entre o final e início de cada ano, mas precisamente entre dezembro a fevereiro. Entre esses meses, a cidade celebra os mais diversos Santos e Deuses de origem católica e afro-religiosa, tais como: Santa Bárbara, Nossa Senhora da Conceição da Praia, Santa Luzia, Boa Viagem e Bom Jesus dos Navegantes, Festa de Reis, Senhor do Bonfim, São Lázaro, Yemanjá, Itapoan e por vai. Em todas essas celebrações, é fácil perceber a participação das mulheres nos diversos empreendimentos econômicos – ainda que tais empreendimentos sejam, em sua maioria, subalternizados e invisibilizados pela sociedade e pelos órgãos da administração pública e econômica.

As mulheres negras sempre foram a base da sustentação familiar. “De acordo com dados do IPEA e do IBGE, 45% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres; 63% deles, por mulheres negras que estão abaixo da linha da pobreza.” Muitas dessas mulheres trabalham na informalidade do comércio de rua. Tão tradicional quanto as lavagens soteropolitanas é a presença das mulheres negras, muitas vezes acompanhadas de suas filhas e filhos menores, no comércio de gêneros alimentícios pelas ruas da capital baiana, principalmentedurante os eventos festivos populares. No entanto, durante a pandemia, essas trabalhadoras receberam um duro golpe ao ter queencerrarseus negócios e, portanto, a fonte de seus sustentos, diante da impossibilidade de saírem para as ruas ou oferecerem os seus serviços pelo sistema de delivery.  Infelizmente, para essas “empreendedoras precarizadas” não há possibilidade de lançar mão do sistema de Home Office.

Ao findar o ano 2021, essas mulheres reacenderam a esperança de retomar seus negócios. Era a pequena luz ao fundo do túnel, com o avançar da vacinação e a redução dos casos de contaminação por COVID 19.  Mas essa chama logo se dissipou em decorrência da chegada de uma nova variante e a contaminação da gripe HN1 e suas variantes. Fundamentais para o funcionamento das festas que marcam a “Capital da Alegria”, mas invilisibizadaspelas políticas públicas voltadas para o famigerado “reaquecimento da economia”, essas mulheres amargam odesamparo público e se questionam: o que fazer para se sustentar e sustentar suas famílias?

Com os cancelamentos das festas populares em decorrência desses vírus, como estão as mulheres que sustentam suas famílias com o dinheiro que faz durante essas celebrações? Diante da impossibilidade de trabalharem nessas festas, quais são impactos econômicos na vida dessas mulheres? Qual a diferença entre essa atividade econômica informal – gerida por mulheres negrase as atividades econômicas promovidas pelos empresários do entretenimento – grupo hegemonicamente masculino e branco – em relação às perspectivas de sustentação de seus negócios no contexto pandêmico? O que temos visto até agora é que enquanto essas mulheres lamentam a perda total de suas únicas fontes de renda, os negócios dos empresários do entretenimento permanecem assegurados por meio da pressão promovida pelos poderosos patrocinadores em acordo com os representantes do poder público local que autoriza e regulamenta as festas.

Em todas essas indagações, há um problema central: a precarização social econômica na qual as mulheres negras estão inseridas. Para começar a buscar soluções para esse problema, é necessário considerar essas questões como problemas a serem resolvidos pelo Estado, cabendo aos administradores públicos terem a sensibilidade depensar a vida dessas cidadãs como direitos constitucionais. Na ausência desse pensar, ou da sensibilidade e empatia para com essas pessoas, é mais uma vez desumanizar esse lugar, e essas profissionais que muito contribuem para manutenção e sustentação da economia local e brasileira.

A cada impossibilidade de desenvolver suas atividades profissionais, as mulheres negras ficam vulnerabilizadas e invisibilizadas, além de estaremsubmetidas a diversos tipos de violências que ferem a moral e a dignidade humana.  É necessário e urgente que a administração pública acolha essas mulheres, que desenvolva mecanismos de suporte, e auxílio financeiro digno e específico para esse público. Afinal de contas, são elas, as mulheres negras “empreendedoras” de si, que dão a alegria através da energia dos alimentos oferecidosdurante os festejos. Pensando que, para ter energia e alegria é preciso comer e beber para que o espírito continue sadio e possível de viver. Portanto, a discussão e preocupação com essas mulheres e suas condições de vida é urgente para o bem estar social da sociedade soteropolitana.

Ainda pensando em lugar na sociedade, observamostambém a invisibilidade das mulheres negras na política Soteropolitana, Baiana e Brasileira. Por que esse espaço não acolhe essas mulheres? Por que temos tantas mulheres inteligentes em suas diversas intelectualidades e saberes,que vão além da academia, e que já se é sabido, observado e até estudado por muitos teóricos que afirmam o quão grande e notório é o saber dessas mulheres? Afinal de contas, estamos falando em legado econômico, ainda que, em sua maioria, elas estejam subjugadas e invisibilizadas, mas são elas que dão o tom e o compasso para manter astradições e culturas populares vivas. Portanto, pensar a política brasileira sem a presença das mulheres, e em especial as mulheres negras, é continuar a hegemonia patriarcal, colonialista, machista, misógina, que pensa a política como o não lugar para essas representações. É preciso interrogar, trazer à mesa um banquete onde o alimento seja também produção do conhecimento, e que a oferta seja o lugar de possibilidade e oportunidade para essas cidadãs. Pensar em como tratar a causa, é melhor do que produzir o remédio para a dor. É fundamental abrir os espaços e lugares onde as mulheres negras possam ser as pensadoras das políticas públicas de prevenção da miséria e controle econômico, social, cultural e estrutural.

Venham, mulheres, filiar-se ao PSB!

Notas de referências extraídas do link: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/genero-e-inclusao/mulheres-invisiveis-que-resistem/