O Brasil atravessa um momento econômico – queda da produção industrial, não crescimento do PIB, redução de empregos – semelhante ao que passou a Inglaterra no final dos anos 90 sob a liderança de Tony Blair, do New Labour, o então novo partido trabalhista inglês. Nessa época, Blair deu início a uma experiência que identificava nas atividades ligadas à criação – cinema, música, atividade editorial, propaganda, arquitetura, mercado de artes e antiguidades, artesanato, design, moda, vídeo, softwares interativos, artes cênicas, jogos de computadores, televisão, vídeo, turismo – um verdadeiro vetor de desenvolvimento. Uma alternativa ao chão de fábrica taylorista. O governo inglês adotaria o conceito de “Creative Nation”, que já se havia iniciado na Austrália em 1994. Blair implantou uma espécie de super ministério de turismo e indústrias criativas que se juntou ao DCMS – Departament for Culture, Media and Sport.

A Inglaterra percebeu que naqueles anos as Indústrias Criativas estavam crescendo a taxas superiores a economia mundial: 5,2% ao ano. E, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Economia Criativa, como viria a ser denominada a produção e a circulação de bens e serviços culturais, já representava 7,0% do PIB mundial com uma tendência muito forte de crescimento, como de fato se verificou.

No Brasil a indústria criativa, segundo a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, cresceu 69,1% entre 2004 e 2013.

O Banco Mundial, o BID, a UNCTAD, a OMC e outros organismos produziram centenas de estudos e pesquisas sobre a Economia Criativa que finalmente chegou ao Brasil. Segundo o economista Paulo Miguez, vice-reitor da UFBA, isso aconteceu há uma década: “Seu marco inicial foi a realização de um painel organizado sobre o tema no âmbito da XI Conferência Ministerial da UNCTAD, realizada em junho de 2004 em São Paulo. Aí, com intensa participação do Ministério da Cultura então sobre o comando de Gilberto Gil”.

Em 2011 o Ministério da Cultura lança o Plano de Economia Criativa e implanta uma Secretaria de Economia Criativa.  Plano e Secretaria coordenados por Cláudia Leitão, primeira titular do novo organismo. Neste Plano definiu-se com muita clareza os conceitos relacionados a Economia Criativa, os princípios norteadores de uma política pública para o setor. Cria-se também, um conceito global: “Brasil Criativo”.

O círculo virtuoso da criação, produção, distribuição e do consumo/fruição da economia criativa, seria dinamizado por uma política pública que fortaleceria as indústrias criativas formais e formalizaria, na medida do possível, o empreendedorismo criativo. O país deslancharia numa nova perspectiva de desenvolvimento econômico

E porque isso não aconteceu ainda no Brasil?

Talvez porque os núcleos centrais dos Governos, federal e estaduais não consigam perceber que cultura e turismo, por exemplo, geram mais empregos, e mais rapidamente, e com menos custos, que a indústria, a construção civil e a energia. Talvez, como diz o próprio Plano, pelo fato da Economia Criativa: “se caracterizar pela abundância e não pela escassez, a nova economia possui dinâmica própria e, por isso, desconcerta os modelos tradicionais, pois seus novos modelos de negócio ainda se encontram em construção”.

O Partido Socialista Brasileiro toma a dianteira nessa questão. É o primeiro partido político brasileiro a colocar o tema no seu eixo estratégico. Com efeito, o PSB incluiu a Economia Criativa como o 11º ponto das propostas que configuram a sua posição de Independência Propositiva. Certamente um avanço significativo para a política brasileira que se faz, assim, mais contemporânea.

DOMINGOS LEONELLI

Presidente do Instituto Pensar

dleonelli@uol.com.br