Os setores criativos econômicos representam cerca de 2,6% do Produto Interno Brasileiro (PIB), cresceram 70% nos últimos dez anos, mas ainda necessitam de políticas públicas de Estado e de investimento para alcançarem pleno desenvolvimento no país.

“É inescapável que a economia criativa seja uma política de Estado, do contrário, ela não se desenvolverá em nosso país. Ainda  falta um Getúlio Vargas para a economia criativa”, afirmou o presidente do Instituto Pensar, Domingos Leonelli.

Ele foi um dos debatedores da conferência A Economia Criativa como Estratégia de Desenvolvimento, durante o seminário comemorativo dos 70 anos do PSB, nesta sexta-feira (11).

Das artes à moda, ao design, passando pela arquitetura e pelo artesanato, gastronomia, festas populares, aplicativos de celulares, até os games e o turismo, a economia criativa está entre os setores que mais geram emprego no mundo. Mas, no Brasil, apesar do potencial, recebe pouco ou quase nenhum incentivo.

“Esses setores se desenvolvem quase que por contra própria e geram muita economia. Não existe no país investimento e peso nem na indústria, nem na economia criativa, nem no turismo”, explicou Leonelli.

Ele defendeu que o tema seja uma das bandeiras do PSB nos diferentes níveis de governo. Eduardo Campos foi responsável por desenvolver um dos principais parques tecnológicos de economia criativa, tecnologia da informação e comunicação do país, destacou.

“O Porto Digital é praticamente o nosso ‘Vale do Silício’. Eu acho que o PSB está sabendo herdar isso”, disse. Premiado por três vezes como o melhor do país, o parque tecnológico localizado em um bairro do Recife antigo foi eleito em 2010 como um dos dez locais do mundo “onde o futuro está sendo pensando”, pela revista Business Week.

Neste ano, um livro editado por Jerome Engel, professor da Universidade da California em Berkeley, apresenta o Porto Digital como um dos importantes núcleos de tecnologia do mundo e uma referência em governança público-privada.

Por estar predominantemente concentrada no setor de serviços, a economia criativa gera menos impacto ambiental, o que é uma vantagem em relação a outros setores econômicos, explicou a professora da Universidade Federal do Ceará, Cláudia Leitão, que também participou da conferência sobre o tema.

Segundo ela, o conceito de economia criativa é novo e ainda está em processo de evolução. A Austrália foi o primeiro país a usar a expressão Nação Criativa, e é referência em incentivo ao desenvolvimento do segmento.

“A Austrália sofreu as mesmas agruras que o Brasil, mas eles são competentes, preocupados com gestão e sensíveis a essa economia”, destacou Cláudia. Atualmente o país é considerado a nação com o melhor ambiente para criação e manutenção de novos negócios ligados à economia criativa.

“A natureza da economia colaborativa e criativa favorece a interação entre comunidades, governos e tecnologia, queima etapas dos processos produtivos com formação em menos tempo. Mas, no Brasil, estamos navegando às cegas num mar de oportunidades”, criticou.

O especialista em Economia e Cultura, Luis Carlos Prestes Filho, defendeu o carnaval como modelo eficiente de economia criativa para inclusão social.

Responsável por gerar receita de R$ 5 bilhões de reais por ano com investimento de R$ 200 milhões, o maior evento cultural do mundo foi criado a partir da luta das comunidades pela sobrevivência e pela valorização da sua identidade, destacou Prestes Filho.

“Uma escola de samba vive sobretudo dos encontros sociais. Uma quadra de escola de samba é um centro comunitário. O povo buscou criar a sua própria forma de criação para viabilizar a sua vida na miséria, na fome, na pobreza e no abandono”, destacou.

Pobres e excluídos, na maioria negros, fazem movimentar 10 milhões de turistas no Brasil e 1,5 milhão de turistas no Rio de Janeiro, disse Prestes Filho. “São os pobres, negros e excluídos que fazem o carnaval das 12 escolas de samba do grupo especial do Rio e de outros demais. Nós temos que entender que modelo é esse que as comunidades excluídas conseguiram criar para valorizar a sua identidade, e quem sabe reproduzirmos dentro das organizações”, destacou.

Desafios do Socialismo Criativo – Se o capitalismo se mostrou criativo na criação de produtos de valor universal, exportou cultura e até modos de vida, o socialismo também precisa demonstrar o seu potencial criativo criando marcas e produtos competitivos, defendeu Leonelli.

“O capitalismo moderno só será efetivamente superado por um socialismo criativo. Se a criatividade capitalista tem como objetivo ampliar o mercado do lucro, a socialista deve ter como objetivo ampliar espaços de liberdade na sociedade e o bem-estar das pessoas”, apontou.

Para crescer no país, o setor de empreendimentos criativos necessita de uma política nacional de Estado que inclua ações intersetoriais, investimentos em educação e formação, desoneração fiscal e incentivo financeiro, além de um marco legal específico.

É necessário também formar espaços criativos em cidades e regiões em “permanente estado de inovação”, destacou Leonelli.