C5FED4E6-FD64-496E-AAE7-6900F1806494 O Ciclo de Debates “Salvador e Sua Gente, Diagnóstico e Perspectivas” foi realizado na tarde deste sábado (20), cumprindo a agenda de cursos de formação política para pré-candidatas e candidatos a vereadores do Partido Socialista Brasileiro (PSB) de Salvador.

A deputada federal Lidice da Mata, pré-candidata a prefeita da capital baiana e o vereador Silvio Humberto conduziram o encontro, que teve as explanações dos expositores Zulu Araújo, arquiteto e presidente da Fundação Pedro Calmon (FPC); Vanda Sá Barreto, socióloga e militante do Movimento Negro; e de Luiz Antônio Souza, professor da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) na Bahia.

A pré-candidata a ocupar a cadeira do executivo municipal de Salvador, ao abrir o debate, expôs em sua fala que é “preciso discutir Salvador com um novo olhar”. “Um novo olhar pós pandemia. O novo normal. É preciso um redenho de Salvador. Precisamos debater sobre os planos de desenvolvimento urbano, econômico, de sustentabilidade e, principalmente, sobre o processo de desigualdades raciais e sociais em nossa cidade”, avaliou Lidice da Mata.

Silvio Humberto deu sequência ao cronograma e explicou a proposta do ciclo. “Esse encontro se propôs apresentar uma visão panorâmica da cidade do Salvador e da nossa gente, com o objetivo de construir o nosso programa de governo”, disse. As discussões foram em torno de temas que envolvem ruas, comunidades, academias e classe politica.

O presidente da FPC analisou Salvador como uma estrutura administrativa e política complexa e relembrou fatos importantes na História do Brasil “que definem o que é a Salvador de hoje”, no quesito das desigualdades raciais e sociais, a exemplo das Revoluções dos Búzios e dos Malês. E citou a obra de João José Reis, A Revolta dos Malês em 1835, por serem chamados assim os negros muçulmanos que organizaram o movimento.

“A Bahia tem uma marca das mais sofisticadas engendráveis da escravização e do racismo no Brasil, que é a marca da desigualdade. Salvador é uma das cidades mais desiguais do país e do mundo. Apesar de sermos 85% de população negra, nunca elegemos um representante negro na prefeitura. É preciso que a gente considere que a relação com a cidade não pode se dar exclusivamente no campo das coisas materiais, da materialidade urbana. É preciso que a gente coloque no campo da discussão para uma nova cidade, para uma cidade do Salvador pós pandemia e sua gente. E sua gente é majoritariamente de origem negra e marcadamente pobre, que vive numa desigualdade econômica, social, racial e política”, evidenciou Zulu Araújo.

O presidente do IAB Bahia refletiu sobre o atual momento e destacou que a “pandemia colocou a nu a precariedade urbana em Salvador”. Além disso, avaliou questões relacionadas à segregação e pobreza na capital baiana.

“É preciso se fazer um diagnóstico de Salvador porque, na maioria da vezes, guarda uma complexidade muito maior do que imaginamos. A gente percebe que Salvador, como toda cidade, tem um desenho que cristaliza o seu ambiente construído e como essa cidade foi gestada durante o período das suas existências. Estamos conversando sobre uma organização social espacial de 471 anos de camadas históricas. Salvador é uma cidade histórica, moderna. Se alimenta de outra parte da cidade que se nutre da cidade pobre. Cidade segregada. Salvador, os pés negros e as mãos negras fizeram essa cidade se movimentar até hoje. A pandemia colocou a nu a precariedade urbana em Salvador. Esse é preço que está se pagando pela desigualdade.

Para finalizar o ciclo de debates, a professora, socióloga e militante do Movimento Negro, Vanda Sá Barreto iniciou o seu discurso com depoimentos sobre a cidade de Salvador pelo olhar do professor Milton Santos, de uma entrevista em 1990 com o escritor Jorge Amado e uma outra entrevista feita por uma burguesa do Rio de Janeiro. Ao término das citações, ela reforçou sobre a importância de “superar o histórico de desigualdade social e racial”, como um dos principais enfrentamentos e reitera foco no olhar sobre mulheres e negros.

“Primeiro temos que pensar em um redesenho da cidade de Salvador com os desafios que enfrentamos. Como superar o histórico de desigualdade social e racial. Esse momento é muito mais complexo, dadas as transformações mundiais que já passaram da quarta revolução industrial e tecnológica associadas à pandemia. As dimensões que temos que construir para uma proposta de pensar e definir quais extratos de segmentos sociais. Isso implica diretrizes claras, prioridades claras. A outra dimensão operacional. Pensar e repensar os modelos das práticas. Dentre as diretrizes, a principal é o social que precisa ser configurado. Tem que entender o que é essa cidade hoje. É preciso focar o olhar sobre as mulheres e os negros em nossa Salvador, como um dos principais objetivos”, concluiu.

Ao final das explanações, o espaço foi aberto para perguntas aos expositores. Também estiveram presentes integrantes do PSB Bahia e representantes da Cultura em Salvador.