“Avisa aí ao Sarney, Renan e Collor que nós estamos chegando e que eles vão para a oposição. No nosso governo, conosco, eles não vão trabalhar. É preciso que alguém faça isso senão não vai, senão não tem jeito!” – (Eduardo Campos).

Não por acaso escolhi esta frase para iniciar esta reflexão em tão oportuno momento. Antes de sua ruptura definitiva com o governo do PT e da presidente Dilma, o Partido Socialista Brasileiro através do seu então presidente, o lúcido e saudoso Eduardo Campos, já afirmava que era um equívoco do governo do PT fortalecer tanto o PMDB (que já tinha o vice- presidente ) dando-lhe também a Presidência do Senado e a Presidência da Câmara.

Naquelas duas eleições ocorridas nas casas legislativas, o PSB tentou construir uma alternativa à esquerda e ao fortalecimento equivocado que o governo do PT fazia ao PMDB. No senado, apoiamos a candidatura Pedetista do então senador Pedro Taques para presidente e na Câmara, tivemos candidatura própria do deputado Júlio Delgado.

O PSB concretizou o rompimento, alegando não concordar com a política econômica do governo Dilma, por enxergar que a crise se avizinhava e principalmente por discordar de suas alianças pragmáticas e que secundarizaram as forças de esquerda durante a gestão e os compromissos ideológicos com os quais o governo foi eleito.

Uma mudança nos rumos da economia e uma nova forma de governar, fortalecendo os municípios e cuidando da vida das pessoas, com um novo pacto federativo e a ruptura com os velhos e tradicionais políticos que “loteavam” o país foram defendidos por Eduardo até o fim de sua jovem vida.

Seus aliados mais próximos assumiram o comando do partido, herdando um enorme vazio. Contudo, herdaram também um grande legado e responsabilidade deixados não somente por Eduardo e seu avô Miguel Arraes, mas, pela história de outros grandes quadros socialistas como João Mangabeira, Hermes Lima, Domingos Velasco, Jamil Haddad e Antônio Houaiss.

Porém, estes aliados mesmo tendo vivido tão próximos a Eduardo, sinto que hoje não se recordam de suas “batalhas” e militância. Parecem ter esquecido seu emprenho pessoal na candidatura de Flavio Dino no Maranhão contra a família Sarney, que não se recordam o quanto ele era reticente ao hoje Presidente da república ao ponto de participar de forma majoritária de seu governo. Governo este que mesmo estando fragilizado por tantas denúncias envolvendo corrupção, com sucessivas quedas de importantes ministros e tendo aprovação inferior a 10% da população, se exalta a propor reformas constitucionais que agridem  diretamente  aos jovens, mulheres, negros e trabalhadores de uma forma geral.

Friso, o delicado momento que vive o País. Ocasião melhor não poderia haver para uma reflexão dos dirigentes do PSB no sentido de trazerem o nosso partido para o seu lugar de origem, que sempre foi ao lado de sua militância, ocupando as ruas contra reformas governistas que retiram direitos dos trabalhadores e observando seu estatuto, seu manifesto e seu conteúdo programático.

Quis a vida que fosse neste período de intensa conturbação nacional, de choque entre as instituições e falência da fé do povo em seus representantes que comemorássemos o centenário de Miguel Arraes.

Sua vida, sua militância e seus ensinamentos nos inspiram ainda hoje?

Esta é a indagação que me faço diariamente e que penso, deveria ser feita por toda militância, seguimentos, parlamentares e direção do nosso partido.

 

Alisson Gonçalves

Graduando em Sociologia

Ex-presidente do PSB Ilhéus

Dirigente Estadual do PSB/BA