Será que os nossos ministros, secretários de estado, governadores e prefeitos, perceberam quanto há de investimento cultural e tecnológico da Economia Criativa, por trás dos belos espetáculos que assistiram na abertura e no encerramento das Olimpíadas 2016? Deram-se conta do valor da criatividade empregada na arquitetura e no design das instalações permanentes e temporárias? Dos softwares para o transporte, para a segurança, para a venda de ingressos e reservas?

As Olimpíadas 2016 constituíram-se no maior arranjo produtivo da Economia Criativa da história do Brasil. Praticamente todos os componentes diretos e indiretos desse vetor econômico foram envolvidos na bilionária operação. A partir da comunicação que ia das criativas fórmulas de internet às fantásticas transmissões mundiais em tempo real. A música, o teatro, a dança, o artesanato, o design, a arquitetura, publicidade, o turismo, entretenimento, inovação tecnológica em várias áreas, novos softwares de logística, formação profissional, edições de centenas de livros, revistas e folhetos. Será difícil encontrar um setor da Economia  Criativa que tenha ficado de fora desse imenso arranjo produtivo.

A Economia Criativa por se caracterizar como vetor da economia e não como uma atividade isolada, ainda não tem parâmetros de avaliação. Se tivesse poderíamos verificar a sua verdadeira dimensão nas Olimpíadas de 2016.

Os maiores investimentos foram em construção civil, transporte, saneamento, saúde, segurança, limpeza, atividades típicas da economia tradicional.

Mas os maiores ganhos foram, com certeza, da Economia Criativa. E os maiores ganhos futuros também. Tanto da vertente mais cultural – música, teatro, dança, cinema, setor editorial, artesanato – como no terreno da inovação tecnológica, do moderno design, da produção de marcas e da publicidade em geral.

Foi o turismo, incluído na Economia Criativa ora como setor nuclear, ora como setor relacionado ou de apoio, que mais ganhou nas olimpíadas.

Cinco bilhões de pessoas de 220 países, viram as belas imagens do Rio de Janeiro e receberam alguma informação cultural sobre o Brasil como um todo, uma cobertura que envolveu 105 canais de televisão, com mais de 20.000 profissionais credenciados em mais de 700 horas de transmissão. A fantástica movimentação de 78 bilhões de interações pela internet. Enfim, a maior exposição de mídia jamais alcançada pelo Brasil.

Um negócio de bilhões de dólares. Somente a NBC faturou US$ 1,3 bilhões. Com um aumento de 289% de voos internacionais a hotelaria do Rio, que passou de 28.000 para 60.000 leitos, chegou a quase 100% de ocupação, nos antigos e novos hotéis. Isso significou mais de 120.000 postos de trabalho.

270.000 pessoas visitaram a Casa Brasil, uma excelente ferramenta de marketing para o turismo e a cultura brasileira. Boa parte deste contingente era de estrangeiros, dos mais de 540 mil que vieram ao Rio. E os gringos, gostaram do que viram: a pesquisa do Ministério do Turismo revelou que 87,7% dos turistas estrangeiros, pretendem voltar ao Brasil. Sendo que a diversão noturna, os restaurantes e o alojamento alcançaram os maiores índices de satisfação.

Será que os núcleos centrais dos governos (secretarias e ministérios do planejamento, fazenda e de desenvolvimento econômico) vão perceber que há uma forma de “ir buscar” os 40 bilhões de reais, públicos e privados, investidos nas Olimpíadas de 2016? Essa forma é dar consequência ao que conquistamos, investindo forte e continuadamente na promoção turística, na capacidade integradora do esporte, na produção e exportação de mercadorias culturais e tecnológicas, no investimento continuado da formação de talentos.

Investir, enfim, nos ativos intangíveis, e transformando a Economia Criativa numa estratégia econômica.

 

Domingos Leonelli, secretário-geral do PSB e presidente do Instituto Pensar