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“A Educação continuará sendo a tarefa fundamental prioritária do próximo prefeito de Salvador, assim como do próximo governador da Bahia. Esse será um desafio para os próximos gestores do Governo do Estado e da Prefeitura de Salvador, de dar um salto efetivo que transforme a visão da Educação na Bahia e em nosso município”, alertou a pré-candidata a prefeita da capital baiana, deputada federal Lídice da Mata, sobre a importância do “olhar” para a Educação. Essa contribuição foi registrada no Ciclo de Debates Salvador e Sua Gente do PSB, realizado na noite desta segunda-feira (13).

Em continuação ao tema Cidade Mãe e Educação, o encontro de formação política para pré-candidatas e candidatos teve nessa segunda parte o subtema “Perspectivas: o que fazer e como fazer”. As debatedoras foram a professora e doutora em Ciências Sociais, Carla Liane dos Santos, e as professoras e mestras em Educação, Nádia Cardoso e Maria Thereza Marcilio. A apresentação do tema foi feita pelo coordenador do Ciclo de Debates, Zulu Araújo, e a mediação pelo professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Sérgio Farias. Estiveram presentes a deputada estadual Fabíola Mansur, o presidente da Executiva Municipal do PSB em Salvador, vereador Silvio Humberto, integrantes da legenda, representantes da educação e militância.

Em sua fala, Lídice da Mata ressaltou a importância da função da implantação de colégios em tempo integral e exemplificou o destaque de dois municípios baianos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). “Andarai e Brumado foram cidades que saíram de abaixo de 15º lugar no IDEB, para assumirem uma posição entre os cinco melhores de destaque no IDEB, em todo o estado, em função da implantação de colégios em tempo integral. Essa é a agonia que ficamos em Salvador e na Bahia de não termos a possibilidade de dar esse salto de qualidade, que interfere no desenvolvimento da cidade, nas condições sociais de qualidade de vida da cidade e que, efetivamente, pode ser um instrumento de transformação da realidade social e racial da cidade do Salvador”, salientou.

Antes de passar a palavra para as debatedoras, Sérgio Farias chamou atenção para a importância de quando se fala em educação, não é somente na educação do sistema escolar. “Também por meios alternativos de educação não formal: cursos livres e formações específicas. E também existe todo um campo de educação informal que não dá para a gente controlar muito, porque é o que ocorre no dia a dia, e que se dá na interação quando todo processo de comunicação resulta na aprendizagem”, aponta.

O professor da UFBA elencou dez aspectos com propostas abrangentes de transformação para o processo de educação, com base na relação do profissional, aluno e comunidade.

“1º – Quando a gente pensa o que é preciso fazer, por que e para que?; 2º – Valorização do profissional da Educação; 3º – Conteúdos de ensino e aprendizagem; 4º – Problemática socioeconômica; 5º – Necessidade de articulação da escola com a família e a comunidade; 6º – Condições materiais do espaço escolar; 7º – Tecnologia e no campo das Ciências, os laboratórios são fundamentais, sem falar nas salas-ambiente para o trabalho com as artes; 8º – Currículo e métodos utilizados; 9º- A importância de pensar em uma educação integral, com intuição e criatividade, na produção do conhecimento em vários campos e o 10º – Reflexões e propostas estão implicadas no contexto sócio-político-cultural”, concluiu Farias.

EXPLANAÇÕES DAS ESPECIALISTAS

Primeira entre as expositoras a debater sobre o tema, Nádia Cardoso trabalhou com educação em organizações sociais não governamentais e negras, durante cinco anos, e considera que a formação sistemática de educadoras e educadores é fundamental. Precisamos ressignificar o conceito de qualidade na educação. Salvador, cidade mais negra fora da África, que impõe para a gente alguns desafios. A partir da minha trajetória profissional, ativista e acadêmica, posso afirmar que em Salvador a política de educação pública, para ser exitosa, precisa ser centrada no empoderamento das crianças e adolescentes negras e negros. Sem isso não há qualidade na educação.

Com sua experiência de cinco anos na Rede Municipal de Educação, Cardoso identificou cinco “grandes” problemas. “A Rede Municipal cuida pouco das creches. É preciso investir em creches; A Rede cuida pouco da formação sistemática de professores e suas equipes escolares fazem pouca análise da prática; A Rede cuida pouco do Ensino Fundamental 2; A Rede não valoriza os seus profissionais e por último, a Rede cuida pouco da formação de jovens e adultos, o EJA. Pensando em soluções, os estudantes dos anos finais querem ganhar dinheiro. Precisamos de políticas educacionais que gerem rendas para essa adolescência. Considerando que é preciso tratar das dores da cidade, o que a prefeitura pode fazer para interferir no genocídio dos jovens negros e na morte social das suas famílias? Políticas educacionais de prevenção ao genocídio são de responsabilidade dos gestores municipais”, denunciou.

Associada fundadora da Avante há 24 anos, Maria Thereza Marcílio destaca como uma das principais linhas de atuação em educação a formação contínua de educadores, professores, gestores, coordenadores e elaboração de materiais para as escolas. A sua inserção na Rede Municipal de Ensino de Salvador aconteceu há 30 anos, quando se instituiu a rede municipal da capital baiana. Thereza também teve participação na subsecretaria da Secretaria de Educação, na gestão da então prefeita, Lídice Mata, e faz um recorte de dois grandes desafios que serão enfrentados em 2021.

“O que vejo como desafios seríssimos e que não estão no âmbito municipal: um é o Fundeb Pra Valer. A luta pelo Fundeb, pois existe o interesse enorme de empresários. As propostas que vêm do Governo Federal são tenebrosas. Se a gente não articular e não se mobilizar e pressionar a votação do Fundeb, não tem educação pública no Brasil.  O Segundo grande desafio é o da pandemia. Não vamos voltar do mesmo jeito. As Secretarias de Educação deveriam estar fazendo é comitê intersetorial pra pensar educação. Nem todas as escolas não vão poder voltar. Se vier um protocolo de saúde rígido, nada vai abrir. Se não houver uma ação conjunta de diagnóstico, não poderemos voltar. A relação professor com aluno tem que mudar. A educação infantil não será a mesma. Se a gente quer preparar uma gestão, tem que pensar e propor para discutir como vai ser a abertura”, advertiu Marcílio.

Carla Liane dos Santos começou sua atividade como pesquisadora em 1997. Trabalhou em projetos como a Fundação Cidade Mãe, e pôde identificar que as ações ofertadas pela Fundação se tornaram divisores de águas na vida de diversas famílias em situação de vulnerabilidade social. A doutora em Ciências Sociais também lembrou dos 120 anos do educador brasileiro, Anísio Teixeira.

“No lugar das Ciências Sociais, a gente sempre se pergunta, quando a gente vai debater um tema sobre a leitura da realidade que a gente faz. Quero, também, trazer Anísio Teixeira, quando no Movimento dos Pioneiros da Educação faz a defesa por uma educação pública, faz a defesa da educação integral e que ele diz que a educação é uma arte. E a arte é algo muito mais complexo do que a própria ciência. Porque a arte consiste em modos de fazer conhecimento da matéria com que se está lidando, métodos de se operar com ela e estilo para exercer tal atividade. Então, como pensar Educação para cidade de Salvador? Esse diagnóstico é fundamental para se construir uma visão estratégica. Mas sempre tendo por base os princípios em torno de uma educação democrática que seja pública, gratuita, universal, socialmente referenciada, dialógica. Uma educação que seja crítica, inclusiva e antirracista”, dissertou.

Liane também fez um recorte do Analfabetismo no Brasil, que ainda tem 11,3 de analfabetos, e em Salvador 11,9. “Se a gente vai para os indicadores, a gente vê a necessidade de se interrogar essa realidade. Um projeto que seja uma educação dialógica, de formação crítica, considerando os diversos aspectos. Nessa pandemia, precisamos pensar nas categorias que não estão trabalhando nem estudando. É necessário que se faça essa contextualização”, apontou Carla Liane.

Em nome do PSB, o presidente municipal agradeceu a participação das debatedoras. “Agradecemos a cada uma por essa contribuição. Aceitaram a nossa convocação e esse nosso desejo de construir coletivamente uma nova visão sobre Educação para a cidade de Salvador, porque isso vai ser fundante para pensar uma cidade que a dignidade seja o cerne, em falar de dignidade humana”, concluiu Silvio Humberto.