AE146693-B549-4F68-9D89-A154F6C263DEEm sua participação no terceiro Ciclo de Debates Salvador e Sua Gente do PSB, realizado na noite desta segunda-feira (6), a pré-candidata a prefeita de Salvador, deputada federal Lídice da Mata, relembrou que a Educação foi uma área com experiências importantes quando esteve à frente do executivo municipal da capital baiana e afirmou que essa é a “prioritária” e principal política de desenvolvimento para o Brasil, Bahia e Salvador.

Com o tema “Cidade Mãe: Educação – Diagnóstico, Gestão e Financiamento”, o encontro de formação política para pré-candidatas e candidatos teve a contribuição das debatedoras e especialistas, Maria Durvalina Santos, Ivone Souza e Jôsi Sales. A mediação foi feita pela deputada estadual e presidente da Comissão de Educação da ALBA, Fabiola Mansur. Também estiveram presentes o presidente da Executiva Municipal da legenda em Salvador, vereador Silvio Humberto, o ex-deputado federal Bebeto Galvão, o edil Zé Trindade, o organizador do evento e presidente da Fundação Pedro Calmon (FPC), Zulu Araújo, integrantes do PSB, representantes da educação e militância.

A importância da permanência do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e elevação de um novo patamar de educação integral para Salvador foram pontos destacados por Lídice da Mata, que também foi autora da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Fundeb no Senado.

“A minha proposta era de 50% de participação do governo. Essa proposta se unificou, Câmara com Senado em um único texto, que é o texto de relatório da professora Dorinha, e que há um acordo, inclusive com Rodrigo Maia, para gente conseguir tentar votar, embora seja contra o governo e o Centrão. Temos duas posições: o governo federal que quer apenas prorrogar o prazo do Fundeb e nós que queremos modificar, a tirar o Fundeb do texto das disposições transitórias da Constituição Federal e colocá-lo em um texto central da Constituição e ampliar, gradativamente, a participação da União na sustentação da Educação Básica”, informou.

A pré-candidata a prefeita de Salvador reiterou que é preciso “muitos” debates sobre a educação. “De elevar a cidade de Salvador a um novo patamar. Inclusive o patamar que a gente possa discutir a experiência de escola pública integral. De tempo integral com educação integral, com a convivência dos estudantes, desde o início, desde a educação básica; com outras experiências, como horta na escola e experiências praticadas na Fundação Cidade Mãe”, sugeriu.

No início da sua fala, a deputada Fabíola Mansur saudou Lídice da Mata e a referenciou como “militante da educação de vanguarda” e relembrou importantes realizações na época em que a socialista foi prefeita de Salvador. “Como prefeita, criou o maior programa de educação democrática inclusiva, que foi o Cidade Mãe. E a gente precisa relembrar essas experiências, porque foi compromisso dela de governo e implantou uma política de estado, mesmo com todo cerco econômico e político. Mesmo com as grandes desigualdades históricas. Tenho muito orgulho de estar em um partido, como o PSB, que sempre pensou em educação de forma prioritária e defendeu a educação em tempo integral, desde a época de Lídice prefeita. Quero saudar uma pessoa, uma homenagem póstuma. Hoje, 6 de julho, estamos na semana que se comemora 120 anos do nascimento de Anísio Teixeira, um cara que promoveu educação democrática; um ideário da escola em tempo integral”, relatou.

A mediadora do debate também reforçou a importância da manutenção do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica. “O Fundeb foi criado em 2007 e tem prazo de validade até 2020. Muitos debates foram feitos por conselheiros municipais, campanha Todos Pela Educação e com o apoio de toda militância socialista da educação. Quando a gente fala de diagnóstico, gestão e financiamento, muitas pessoas se iludem com o fato que o Brasil tem financiamento e o que falta é gestão. Isso é uma falácia. Hoje o Fundeb é um conjunto de fundos, que são 26 fundos estaduais, mais o Distrito Federal, que dá, mais ou menos, R$ 156 milhões e a União complementa com 10%. Isso dá R$ 3 mil reais por aluno ao ano e significa menos de R$ 300 ao mês e um PIB de 6%”, evidenciou Fabiola Mansur.

Maria Durvalina, mestra e doutora em Educação, professora e coordenadora pedagógica da Rede Municipal de Ensino de Salvador e militante do Movimento Negro, denunciou problemas vivenciados pela categoria desde 2013 com o sucateamento nas escolas e destacou que, em “um universo de problemas”, o maior deles é a falta de atenção ao adoecimento dos profissionais da educação.

“Estamos permanentemente submetidos a tensão de toda ordem. A categoria de modo geral não se sente acolhida. Estamos sendo sempre surpreendidos com pacotes e mudanças e não somos parte do processo. Estamos nesses quase oito anos de gestão (municipal) acumulando perdas de todo tipo. Existem escolas com crianças e adolescentes com necessidades educativas especiais que não tem um lugar onde possam se acomodar dignamente para fazer um lanche. Desvalorização do corpo docente. Os estudantes não são escutados e recebemos pressão e acabamos por repassar essa pressão. A escola tem sido um espaço de adoecer. Estudantes doentes se mutilando; professores e professoras já mutilados dos seus sonhos adoecem física e emocionalmente”, expôs Durvalina.

Em sua explanação, a pedagoga e professora da Rede Municipal de Ensino, Ivone Souza, destacou a evasão de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e alertou para as desigualdades e “exclusão” no acesso às tecnologias para o estudo.

“É preciso que as gestões parem de pensar que a Educação é gasto. Educação é investimento. As escolas estão sendo fechadas da EJA. As turmas estão diminuindo, a cada dia, a olhos vistos. Tem bairros que várias escolas fecharam turmas do EJA. Há quatros anos tínhamos uma matrícula do EJA de 18 mil. Nós temos em Salvador uns 90 mil analfabetos, entre analfabetos e analfabetos funcionais. Atualmente no site tem 17 mil matriculados. Temos um problema sério de exclusão digital. É preciso ver que, em um momento como esse, tem que reformular a forma de pensar. Livro não pode ser a única forma de conhecimento. Temos alunos que tem acesso, mas não é mesma condição dos demais. Tem meninos que não tem nem um aparelho de celular em casa. Como vai fazer conectividade sem o aparelho? O acesso precisa que alguém pague. Não temos internet sem custo, democratizada. Essa é falta de incentivo de financiamento de inclusão”, relatou Ivone Souza.

Josi Sales, professora com Licenciatura em Letras Vernáculas com Inglês, especialista em Gestão Escolar e gestora de colégio estadual em Salvador, abordou sua experiência na área de gestão e ratificou o adoecimento de professores evidenciado por Durvalina. “Iniciei em 2002. A escola não tinha cultura, nem igualdade. Não havia uma gestão de cultura. As escolas são cenários de conflito. A educação brasileira não cumpre seu papel. Nesses quase 18 anos de gestão, todos os meus colegas se aposentaram doentes. A saúde do professor é um problema na educação que tem que ser visto”, alertou.

Sales também reforçou sobre a importância e a necessidade de contratação de coordenadores pedagógicos nas escolas para atuarem junto aos gestores. “A gente, enquanto gestora, conduzir formação de estudante, formação de cidadãos, formação de pessoas, a gente termina fazendo também um trabalho pífio. Você precisa ser muito hábil e precisa ter noção de gestão de compartilhamento de desenvolvimento de equipe para poder dar certo. É imprescindível a presença de profissionais como coordenador pedagógico na Educação. Não dá para o gestor gerir Educação sem coordenador pedagógico”, manifestou.

Após as explanações, o espaço foi aberto para perguntas. Este Ciclo de Debates sobre Educação foi dividido em duas etapas. O próximo seminário será na próxima semana com o subtema “Perspectivas: O que fazer e como fazer”, que terá como debatedoras as professoras Carla Liane, Nadja Cardoso e Tereza Marcílio.