“O desrespeito com as nossas tradições e com a nossa cultura é uma das marcas mais perversas do racismo”. Com estas palavras, o vereador de Salvador, Sílvio Humberto (PSB), repudiou o descaso da Prefeitura Municipal de Feira de Santana com os tradicionais afoxés Toriefan e Pomba de Malê, que já anunciaram em carta aberta a ausência no desfile da Micareta deste ano.

Os motivos alegados pelas agremiações foram a extinção do Circuito Quilombola, a falta de apoio do Município e o horário destinado para a passagem das entidades (das 8h às 13h). “São duas agremiações tradicionais do município, ambas com mais de trinta anos de atuação. Como a gestão municipal pode deixar de fora da festa, afoxés desse porte”, questionou Sílvio, que além de vereador é militante histórico do movimento negro baiano e fundador do Instituto Cultural Steve Biko, entidade responsável pelo ingresso de centenas de jovens negros na universidade.

Para o parlamentar, o cenário é semelhante ao que acontece em Salvador e em todo o País. “Basta olhar a programação da festa e ver os milhões que são gastos com atrações que nada tem a ver com a nossa cultura”, reclamou. O legislador comparou o ocorrido com o que acontece na capital. “Temos denunciado sistematicamente o desrespeito com as nossas entidades. Somente este ano, tivemos situações semelhantes no réveillon e no Carnaval”, pontuou.

Discrepâncias – O vereador relatou que a soma dos cachês pagos aos seis blocos afros que participaram do Festival da Virada de Salvador (R$ 255 mil), foi equivalente ao pagamento de uma única artista da chamada Axé Music. A cantora Claudia Leitte se apresentou por R$ 250 mil. Artistas de outros estados receberam valores ainda maiores: Marília Mendonça e a dupla Jorge e Mateus levaram R$ 400 mil, cada.

Rafa e Pipo levaram R$ 40 mil do festival. Mesma soma paga aos dois mais antigos blocos negros da capital. “Estes valores mostram o suposto retorno midiático dado por cada um dos artistas. Mas mostram também as discrepâncias e a desvalorização histórica das manifestações culturais negras na nossa cidade”, concluiu Sílvio.