Nascido e criado no bairro de Valéria, Antônio Mário é um homem simples. Já fez de tudo nesta vida: foi motorista de ônibus, ajudante de pedreiro, taxista, professor de escola primária, faxineiro, policial e vigilante. Sempre atento às demandas do bairro onde nasceu e vive até hoje começou na política como líder comunitário do bairro de Valéria. “A gente se virava como podia. Se precisasse de uma poda de árvore, eu ia lá e fazia”. Pastor na Igreja Evangélica Assembleia de Deus, em Salvador, Antônio Mário recorda os tempos em que organizava multidões para que a população do bairro pudesse ter acesso aos serviços básicos de infraestrutura. Encorajado a disputar às eleições em 2012, obteve 2.712 votos para vereador de Salvador tendo alcançado o posto de primeiro-suplente. Em 2 de fevereiro de 2015 ocupou a cadeira deixada pela então vereadora Fabíola Mansur, hoje deputada estadual, e em pouco mais de quatro meses de mandato assumiu a vice-presidência da Comissão de Reparação da Câmara Municipal de Salvador. Em entrevista ao site do PSB-Bahia, o vereador Antônio Mário falou sobre as metas e principais bandeiras do seu mandato. Confira:

 

1)  O senhor tem uma atuação muito forte como líder comunitário no bairro de Valéria, seu reduto eleitoral. Quando decidiu que era hora de entrar para política?

 

A história de minha vida começa na Valéria. Eu nasci naquele bairro. Literalmente mesmo! Nove meses gestante de mim, minha mãe procurou um hospital e foi expulsa por um médico, com o argumento de que ela estava “fazendo chilique”. Sem nenhum plano de saúde ou condição financeira para conseguir outro hospital, nasci na porta de casa. Minha família sempre teve a iniciativa para resolver os problemas quando tinha assistência negada. Contando um pouco mais de minha história, já tive muitas profissões: motorista de ônibus, pedreiro, ajudante de pedreiro, taxista, professor de escola primária, faxineiro, policial e vigilante. Em todas elas fiz muitos amigos e estive muito atento aos problemas que todos eles contavam. Basicamente, o de sempre: às vezes, um problema simples, como um buraco na rua, não era resolvido porque os órgãos públicos não iam lá. Não se olhava para a periferia, a não ser em época de campanha. A gente se virava como podia: se precisava de uma poda de árvore, eu ia lá e fazia eu mesmo; realizava mutirões para esses serviços básicos de estrutura no bairro, etc. A ideia de começar na política começa com o meu slogan, em 2006. “Deixa o homem trabalhar” nasceu quando eu estava retirando um quebra-molas de uma rua porque todos os motoristas se queixavam de ser um “quebra-carros”. Duas da manhã e eu lá, com um martelo na mão tirando a lombada. Uns policiais da área fazendo ronda chegavam perto, viam aquilo e os moradores diziam para deixar que eu trabalhasse. Gostei daquele lema e comecei a estruturar minha vida política com base nisso: no trabalho honesto e no reconhecimento popular.

 

2) O senhor também é pastor de uma igreja evangélica. Isso facilita o diálogo com as comunidades?

Eu não misturo minhas convicções religiosas com o trabalho que faço para a população. Talvez isso sim facilite o diálogo: saber onde eu falo como pastor, onde eu falo como vereador. Pessoalmente, eu acredito na liberdade individual, no respeito e na tolerância. Esse tipo de pensamento permite estar sempre aberto ao diálogo verdadeiro com as pessoas.

 

3)    As demandas dos bairros periféricos são muito parecidas por tratar-se, normalmente, de locais afastados do Centro da cidade e com uma carência muito grande de serviços essenciais. Como o senhor pretende atuar junto à Prefeitura para viabilizar a presença do poder público municipal nestes locais?

Os problemas dos bairros periféricos não são por estarem geograficamente longe do Centro. Inclusive, existem bairros carentes exatamente no Centro da cidade, como é o bairro da Gamboa, por exemplo. O problema dos bairros periféricos é uma questão histórica de poder: quem tinha o poder não tratava pobre como gente, como digno de receber assistência. População pobre era vista como um meio para conseguir algo, não como fim de políticas públicas. Ainda hoje enfrentamos problemas sobre ter alguém que venha dessa parcela social nos lugares de poder. Eu não só venho da periferia, eu sou periférico. Continuo morando na Valéria e não pretendo me mudar. É preciso que a gente qualifique os bairros que foram esquecidos pelo poder público, é preciso que a gente continue saindo na rua, compartilhar do espaço onde a população frequenta – não se fechando em redomas. Continuo andando na rua e sempre paro para conversar com quem pede para falar comigo. Isso é fundamental para ser um representante do povo no Legislativo. Apenas assim a gente poderá solicitar ações ao Executivo.

 

4)  Quais serão as bandeiras prioritárias do seu mandato?

São cinco: a responsabilidade social com a população precária, o respeito à diversidade racial, a tolerância religiosa, as pessoas portadoras de deficiência e o respeito à mulher.

 

5)   E as metas?

Minha menta é reduzir as desigualdades nesses âmbitos, através de leis e projetos.

 

6) Em menos de 60 dias de mandato, o senhor passou a integrar duas comissões importantes na Câmara, a de Reparação e a de Planejamento Urbano e Meio Ambiente. Quais são os principais desafios dessas comissões?

As comissões são apenas uma maneira de dinamizar as discussões na Câmara. Mas todas servem ao propósito de discutir assuntos para levar melhorias às pessoas na cidade. Na Comissão de Reparação, onde estou vice-presidente, é justamente fazer com a população historicamente marginalizada seja posta no centro da discussão. É dar vez e voz para que essa parcela social tenha a assistência devida, a fim de garantir igualdade de oportunidades a todas as pessoas na cidade ou, pelo menos, reduzir as diferenças entre pobres e ricos, negros e brancos.

Na Comissão de Planejamento Urbano e Meio Ambiente é pensar que periferia também é Salvador – e levar obras para lá. Pensar que cidadania também é feita com estruturação de bairros, com acesso a obras que parecem pouco para o bairro, mas que mudam a forma das pessoas pensarem o lugar onde elas moram, que faz elas sentirem orgulho quando voltam para casa depois de um longo dia de trabalho, que não faz com que as pessoas queiram sair de seu bairro no final de semana por não encontrarem boas opções de lazer na comunidade. Sonho com o dia em que alguém vai decidir se quer morar na Barra ou Nova Brasília por questões geográficas ou afetivas – como morar perto da praia, da família, não porque tal bairro é desestruturado ou coisas do tipo.

 

Carine Andrade / Ascom PSB-Bahia

27/05/15