A candidata à Presidência da República Marina Silva, do PSB, teve um encontro com lideranças do movimento negro em Salvador e participou de um comício no bairro de Cajazeiras, na noite deste sábado (20), ao lado da candidata do partido a governadora da Bahia, Lídice da Mata. Nos dois eventos, Marina condenou a intolerância religiosa e o preconceito racial.

“O respeito à diversidade religiosa é um compromisso de vida. A grande contribuição para a construção de um estado laico foi dada pelo movimento protestante. Porque antes havia uma religião oficial. E isso foi muito bom para todo mundo, tanto para os que creem como para os que não creem”, afirmou.

Marina destacou que, em sua carreira política, nunca se utilizou da fé para pedir votos, nem deixou de apoiar, por motivos religiosos, candidatos em quem acreditava. Ela disse que já votou até mesmo em pessoas que não tinham nenhuma fé, mas que eram mais honestas que muitas outras que ficavam por aí arrotando sua fé.

“Não preciso negar a minha fé para ser presidente da República. Se eu negar a minha fé para ser presidente, como vocês vão acreditar que vou defender a sua fé?”, observou, após se manifestar contra qualquer tipo de preconceito, inclusive o religioso.

Lídice da Mata, por sua vez, reiterou a necessidade da manutenção do estado laico e defendeu a realização de campanhas educativas nas escolas públicas para combater a intolerância religiosa. Ela rebateu os ataques que Marina, que é evangélica, vem recebendo durante a campanha eleitoral devido a sua religião, inclusive de setores do PT, partido da qual a candidata a presidente foi fundadora. “Tem muitos companheiros do PT que são evangélicos, mas aí não tem problema nenhum. Se estamos falando de intolerância religiosa não podemos aceitar os ataques a Marina por sua fé”, disse.

Boatos – No encontro de Marina com representantes do Movimento Negro, o professor Jorge Arruda, secretário da Negritude Socialista do Brasil (NSB), se disse membro do candomblé e informou à candidata a presidente a circulação de um boato segundo o qual ela não consideraria o candomblé uma religião e que iria fechar os terreiros.

Marina lamentou a tática dos adversários, recordando que em 1989, na campanha eleitoral em que Collor de Mello venceu Lula, um dos boatos espalhados contra o petista era de que ele iria fechar as igrejas evangélicas. “Antes diziam: ‘Olha você que é pastor, cuidado, Lula vai entrar em sua igreja e tomar tudo que é Bíblia’. Antes eram as bíblias, para espantar os evangélicos, agora estão dizendo que vamos fechar os terreiros. São mentiras”, disse.

Violência – Tanto Marina como Lídice da Mata comentaram a elevada taxa de assassinatos de jovens negros no Brasil e ambas se comprometeram a trabalhar juntas para reduzir a violência crescente, que causa a morte, por assassinato, de mais de 60 mi brasileiros por ano.

“Não dá para achar que isso é um problema só dos governos estaduais. É também um problema do governo federal. É por isso que, se ganharmos, vamos fazer uma parceria e trabalhar juntas”, disse Marina a Lídice.

Em seu discurso, Lídice disse que o combate ao racismo na área de segurança pública passa prioritariamente pelo combate ao racismo institucional e pela criação de oportunidades de vida para os jovens moradores das periferias das grandes cidades. “A diferença de renda é uma expressão da herança maldita da escravidão que temos que vencer. Nos orgulhamos de nossa raiz africana, mas o nosso estado ainda é racista”, disse.

Marina Silva concordou e disse que não se pode combater a violência apenas colocando as pessoas na cadeia, mas também criando meios para que os jovens tenham igualdade de oportunidade, com a oferta de educação de qualidade. Ela disse que é preciso também combater a violência com respeito aos direitos humanos e citou uma frase de Shakespeare: “Ele disse que o contrário de injustiça não é a justiça, é o amor. Toda a justiça que não se faz por amor, não é justiça, é vingança”.

Carta de Salvador – No encontro com representantes do movimento negro, Marina recebeu a Carta de Salvador, um documento com 16 propostas para o enfrentamento do racismo, a defesa da promoção da igualdade racial e o combate à intolerância religiosa. O documento cobra uma relação de “respeito” entre o governo e os movimentos sociais e pede que se “respeite a autonomia do movimento negro”.

Entre as propostas, está a criação de um Fundo Nacional de Combate ao Racismo; a punição “exemplar” a indivíduos e instituições que promoverem ou incitarem a intolerância religiosa, acompanhada de campanhas nacionais educativas; a extinção do chamado auto de resistência, para tratar a investigação de mortes relacionadas à ação da polícia militar como caso de homicídio. O documento cobra ainda a manutenção da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a manutenção do sistema de cotas, a delimitação dos territórios quilombolas e o combate à violência contra a juventude negra brasileira.

Equipe Lídice 40